As Almas se Reencontram Após a Jornada

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CAPITULO 1 – O DESESPERO DA ALMA CONDENADA

Lá estava ele como sempre esteve. Não na verdade não era igual ao que normalmente era, estava diferente, mudado, cansado e com o olhar sem brilho algum, por um momento pensou que sua humanidade havia sido perdida e que seu coração só possuía a maldade que um youkai necessita para sobreviver, não havia pensamento algum e toda a sua memória havia sido tragada para um abismo escuro de esquecimento.

Foi quando percebeu.

Ele estava parado, seu corpo coberto por um líquido vermelho que escorria quente e intenso, era possível sentir o quanto estava fresco o sangue viscoso, seu calor fazia arder dentro da espada uma tristeza que somente o frio metal podia sentir. Ao seu redor, corpos de homens mortos brutalmente, como se tivessem tido suas vidas ceifadas numa colheita de almas injusta e horrenda. A espada havia matado...

Um sorriso quase imperceptível estava estampado no seu rosto de meio-demônio, um sorriso que não deveria estar ali, não havia um único vestígio de remorso em seu olhar, um único sentimento de dor ou de qualquer tipo de medo pelo que havia feito naquele campo de horrores que ele mesmo havia feito. O sorriso permanecia como ele, parado, imóvel, incompreensível. As mãos mantinham-se abertas e sentiam o escorrer do sangue passando por elas, parecia que o corpo se satisfazia com aquele tipo de tristeza, a alma parecia realizada.

Porém, algo dentro do meio-demônio estava diferente, aquela sensação de felicidade não poderia durar muito, era tudo culpa dele. Aquela cena de horror era sua culpa e ele teria que levar as manchas que o sangue daqueles homens haviam feito em sua alma, nunca seria capaz de limpá-las de suas garras o cheiro de morte que havia provocado, jamais poderia esquecer do que seus olhos viam, o que seria mais marcante e inesquecível era aquela sensação? Ele estava inerte e achava graça do que havia feito.

Então, uma dor o invadiu lentamente, percorrendo suas veias como se estivessem em brasa ardente e fazendo sua cabeça formigar desesperadamente, ela girava sem parar o fazendo rever todas as estocadas, os golpes e sussurros dos mortos que ali estavam; ele havia matado e havia gostado e queria mais... Sentia-se enjoado com o que havia feito, ajoelhou-se no chão e sentiu vontade de vomitar, mas não era capaz. Percebeu que suas roupas e sua pele estavam impregnadas pelo cheiro de morte dos humanos. Aqueles corpos fediam a morte e ele sabia o porquê!

Por um instante pensou em algo terrível.

Foi quando uma brisa suave bateu em seu rosto com brutalidade, como se trouxesse novo ar aos seus pulmões, ele fechou os olhos e percebeu cada cheiro que havia ao seu redor. Era um aroma familiar que trazia paz ao seu espírito e, ao mesmo tempo, o despertava para tudo que acontecia diante de si. Ela estava perto, estava perto demais do lugar, na verdade, ela estava ali! Mas, não era só isso! Ela também estava ferida.

O que estava acontecendo?

Inuyasha sabia que Kagome estava quase morta quando sentiu o seu perfume doce no ar, era como se sua alma estivesse avisando ao youkai que ela estava prestes a morrer! A mente dele podia sentir seu sofrimento transmitido ao vento que percorria a campina, seu corpo podia sentir a dor quando respirava ofegante e cansada e por fim seu coração podia sentir o medo que palpitava no coração triste da jovem. O vento percorreu o campo de batalha com intensidade mais uma vez, fazendo a relva balançar.

Seus olhos voltaram a adquirir o brilho de um ser destinado a viver entre os humanos e os demônios, os olhos cor de âmbar estavam novamente vivos e transparentes, brilhando com dor porque sabia que algo estava errado! Seu olfato tomou consciência do que tinha que fazer, e ao final, ele nunca o desapontou, Inuyasha precisava encontrar Kagome, ela precisava de sua ajuda e precisava dele naquele momento, o demônio não podia falhar, não com ela, não mais uma vez.

...

A jovem havia corrido desesperadamente com todas as forças que lhe restaram, estava preste a cair, mas tinha que continuar correndo, tinha que fazer seus pés se mexerem mais um pouco. Ela ouvira os gritos de longe enquanto estava presa em uma armadilha, mas sabia que algo além da sua atual situação estava errada, como se uma voz dentro dela lhe dissesse que mais importante que pensar em como sair dali, era encontrar com Inuyasha, mesmo estando em perigo, ele era quem mais estava correndo risco de morte.

No entanto, ela já sabia de um fato cruel que ocorria consigo fazia algum tempo, na verdade, havia descoberto isso através de Kikyou, e depois que Naraku foi vencido ela tomou consciência da realidade, estava ficando fraca; mais fraca do que poderia suportar. Mas como pensar em sua situação naquele momento? Ela não podia, Inuyasha precisava dela, Kagome podia sentir em seu coração a dor que seu amado meio-youkai sofria, era como se ela pudesse ver a cena que se desenrolava, mas não era capaz de ver mais nada, estava fraca de mais.

Mesmo presa por ladrões ela podia sentir o perigo se aproximando. Não havia jeito, teria que escapar. Usou toda a força que tinha para bater na cara de um dos assaltantes, depois, agarrando seu arco e flecha atirou contra o outro que vinha em sua direção, os odiava. Eles estavam tentando abusar dela e não iriam conseguir isso tão facilmente. Estranhamente um assobio passou pelo ar e os homens se deixaram vencer pela jovem, como se tivessem perdido a vontade de prendê-la.

Naquele exato momento que Kagome fugiu o vento pareceu bater mais forte que costumeiramente e depois ela não olhou mais para trás, deixou-os caídos no chão e fugiu na direção que seu coração lhe mandava ir.

Porém, ela já havia sido ferida mortalmente um pouco antes de escapar. Havia sido envenenada quando os assaltantes a cercaram na clareira da floresta. Um dardo de veneno fixou-se em seu pescoço e ao tirar ela já podia sentir suas forças sendo minadas.

Mas a jovem precisava encontrar Inuyasha, precisava acalmar a fera que havia dentro dele, não se importava com o que havia lhe acontecido e nem o estado doente em que se encontrava, seu único pensamento era ajudar Inuyasha. Ajudar aquele que amava.

No entanto, ao se deparar com a paisagem sangrenta, seus olhos encheram-se de lágrimas; mesmo que ela não conhecesse nenhum daquele que estavam no chão, mesmo desconhecendo suas razões, ainda sim ela ficou triste, ficou com medo, sentiu uma angustia subir pela garganta e desatar em um choro alto e cheio de sentimentos que se misturavam com a frustração e o desafeto e com a raiva de estar sozinha e Ter falhado mais uma vez.

E ela não pode mais suportar o veneno que percorria seu corpo fazendo-o ficar cada vez mais fraco, mais fraco, mais fraco... A visão ficou embaçada e os lábios secaram repentinamente, estava acabado! Então, entregando-se a morte que vinha como num suspiro fatal, deixou-se cair em meio a outros corpos misturando-se com os que já estavam sem alma, teria o mesmo fim que todos aqueles humanos, teria a morte como aliada da dor.

...

Inuyasha procurava desesperadamente pelas roupas estranhas de Kagome, ele havia sentido seu cheiro, sabia que ela estava ali, mas onde? Seus olhos buscavam a pele clara e limpa, pelo calor ardente que havia dentro de seu coração, pelo amor de Kagome, por sua alma imensa e cheia de um sentimento que ele ainda não conhecia completamente, mas não a encontrava, não encontrava sua outra metade, sua parte humana e nem seus sentimentos, naquele monte de homens mortos, ele precisava dela naquele momento e precisava encontrá-la, pois ela precisava dele!

Os cheiros de morte e vida misturavam-se e era quase impossível localizá-la. Então um pensamento passou por sua mente novamente, o mesmo que o havia feito perceber o que estava acontecendo. A dúvida pairou no ar com temer: Teria, ele, a destruído num momento de raiva?

Ele havia matado Kagome? Ele havia destruído seu próprio coração? Sua alma estava com Kagome e se ela morresse, este seria o seu fim, também. O medo tomou conta de seus pensamentos.

A fita verde passou diante de seus olhos como um sinal de esperança. Uma bela fita que ele havia dado a ela dois dias antes. Suas garras seguraram a fita com força, talvez pudesse encontrar Kagome, ela estava perto. Ela estava ali, mas onde? Ou melhor, como? A busca continuava.

...

Kagome não conseguia mais sentir a respiração e nem seu coração bater, seu corpo parecia parar lentamente de funcionar, entregando-se completamente ao veneno que a consumia. Seus olhos se fecharam em desanimo e suas mãos abriram-se desistindo de lutar contra um mal que a matava lentamente.

...

Em algum lugar um sorriso pairou simples e calado.

_O que faz aqui? – perguntou uma voz fria atrás de uma jovem youkai de cabelos negros.

_Estou indo, não se preocupe. – ela respondeu sem se virar. – Inuyasha precisa de você agora, sabe disso não é? – continuou.

_... – não houve resposta.

...

Kagome estava preste a dar sua última piscada, mas antes que seu último suspiro saísse de seus pulmões, algo a levantou da terra suja de sangue e a abraçou com força, com um calor que somente uma pessoa poderia lhe dar. Ela não podia falar, devido a dor e nem mesmo enxergar, o que estava acontecendo? Ela conhecia aquele conforto, mas tinha medo de saber se quem a estava agarrando agora era Inuyasha ou um meio-demônio enfurecido. Ela havia chego tarde de mais, sabia que Inuyasha havia feito algo que jamais se esqueceria e que ela nada pode fazer para evitar, mas quem a estava tomando nos braços agora?

No entanto, ela conhecia aquelas mãos, conhecia a voz, conhecia o calor. Era Inuyasha! Ele abraçou Kagome com toda a força que possuía dentro do coração!

"Estaria ela, morta? Seria ele o responsável?" – este pensamento o invadiu. Uma dor corroeu seu corpo, naquele local, ele não só havia perdido o controle de si, havia perdido parte de si. Kagome estava em seus braços, não respirava e o coração quase não batia...

CAPÍTULO 2 – UM PASSADO QUE SEMPRE ASSOMBRA...

“_Kagome? Preciso encontrar a Kikyou, tenho que lhe dizer que... – ele encarou os olhos da jovem de um tempo distante como se fosse a primeira vez que a via, os olhos dela estavam ariscos como se queimassem por dentro, que sentimento era aquele? Raiva? Não era possível, depois de tudo que havia feito para ajudar Kikyou, depois de tudo que suportou por amor a Inuyasha, ela já deveria saber que aquele era o verdadeiro fim de sua história, não deveria sentir raiva, apenas deveria sorrir e dizer “obrigada”.

Podia-se ver no brilho dos olhos de Inuyasha o desconforto com aquela cena, mas não havia como evitar aquele momento, a última vez que vira Kikyou havia sido na mortal e final batalha contra Naraku e a sacerdotisa havia sido brutalmente ferida pelo meio-youkai inimigo. Era estranho, embora se sentisse aliviado por ter vingado a morte de Kikyou, de Ter se vingado particularmente, saciando sua sede de justiça e de ter, finalmente, unido todos os fragmentos da Jóia, Inuyasha ainda sentia-se angustiado, como se algo de ruim estivesse para acontecer.

_Inuyasha eu... - a voz de Kagome era rouca, como se escondesse algo dentro do seu coração, sabia que estava acontecendo algo que o meio-demonio não era capaz de perceber, mas tinha receio de lhe contar a verdade, depois de tanto, ela ainda sentia-se um pouco temerosa em confiar em Inuyasha, não por medo de suas atitudes, mas porque de uma certa forma, ele não lhe pertencia e ela também não. Bastava prestar atenção na cena e podia-se ver que nenhum dos dois sabia ao certo o que sentia. Sozinhos numa clareia apenas iluminada pelo fogo, ambos tinham medo de se envolver em suas emoções.

Além disso, aquelas últimas horas haviam sido desgastantes e ao mesmo tempo torturantes. Havia um segredo que ela guardava dentro de seu coração e que não era capaz de compartilhar com o ser que a fez descobrir uma nova razão de viver. Por que tanto medo? "Não quero que você se machuque!" – Kagome pensou abaixando a cabeça triste.

Inuyasha percebeu a angustia de Kagome, mas naquele momento ele não poderia acalentá-la, tinha que agir.

_Então vá! - ela virou o rosto e desviou-se do olhar de Inuyasha, deu de costas para que não visse sua cara feia e chorosa derramar lágrima alguma. Preferia olhar as chamas da fogueira. Estava sozinha com o meio-demônio e sentia-se caindo num abismo negro de dor e sofrimento.
Inuyasha sentiu o cheiro de gotas salgadas invadirem o aroma suave que o vento possuía quando passava por Kagome. "Esta chorando!" – refletiu contendo-se para não dizer nada que a ferisse ainda mais.

A jovem sentia falta dos amigos, mas eles estavam longe dali.

_Continue a viagem Kagome, encontrarei você logo, não se preocupe, ninguém pode chegar perto de você! – ele levantou-se lentamente e tentou afastar o pensamento de permanecer ali, pretendia encontrar Kikyou e saber como ela estava, seu estado não era bom quando se afastou do campo de batalha rumando para longe. Mas mesmo querendo ver Kikyou, não estava animado, como deveria estar, porém não podia deixar de mostrar a gratidão que sentia por saber que Kagome permitia sua partida.

_Adeus Inuyasha. - ela resmungou para si, estava perdendo o amor que batia forte em seu peito".

...

_Kagome! Kagome! - Inuyasha gritava enquanto segurava o corpo frágil da jovem, ela parecia estar adormecida, mas seu calor diminuía lentamente e o meio-demônio não sabia o que fazer para curá-la. Era como se lutasse contra o destino. Todas as mulheres que amava eram mortas e se perdiam em suas mãos.

Havia, no entanto, uma fagulha de esperança que insistia em permanecer quente e ardente dentro do coração do meio-demônio, embora ele soubesse que não poderia fazer nada mais que acolhê-la em seus braços, era preciso acreditar que Kagome viveria mais uma vez, que diria mais uma vez que Inuyasha era um "Idiota!", "Bobo" e qualquer outro xingamento; preferia ouvir Kagome gritar com ele a não ouvir a sua voz nunca mais. Inuyasha não suportaria sua morte, não suportaria perder quem jurou proteger.

No entanto, havia, ainda, o sentimento de culpa... "Eu sou o culpado!" – pensava se afundando cada vez mais num lodo de sujeira que sentia de sua própria alma, pois por ser quem era estava se machucando e pior, machucando a única pessoa que o amava como ele era, sem querer mudá-lo, Kagome estava perdendo a vida.

"Por que eu a deixei num momento como este? Ela estava frágil e eu a deixei para trás! Como sou um idiota!" – condenou-se por seus erros que vinham à tona em imagens que passavam por sua mente. Por diversas vezes colocou Kagome em perigo e, poucas vezes, foi capaz de ajudá-la, falhando em proteger quem precisava proteger. "Por que preciso proteger você?" – perguntou-se olhando o rosto sujo e ainda morno de Kagome. “É você quem realmente me protege de mim mesmo, como sou idiota!”.

Se ele não tivesse ido embora naquela noite atrás de Kikyou, se tivesse aguardado o momento certo para procurar a sacerdotisa; deveria Ter esperado, pois Kikyou o esperaria, não importava quando tempo fosse. Mas seu coração estava inquieto demais para esperar. Era culpa dele, Kagome estava ferida e envenenada.

_Inuyasha... - um gemido longo e doloroso soou em seus ouvidos como se fosse um suspiro desprovido de vida e de sentimento, mas havia esperança na voz fraca. Ela ainda estava viva. "Kagome?" – pensou abrindo os olhos rapidamente e sorrindo para ela. As lágrimas escorreram pela segunda vez em seu rosto. Kagome poderia ser salva.

_Kagome... - ele sorriu para ela, deixando um sentimento quase desconhecido aflorar por seus olhos, eles brilhavam de emoção ao vê-la ainda respirando, mesmo que sem força. – O que aconteceu? Sinto cheiro de veneno em seu corpo e estes ferimentos...

_... - Mesmo querendo, Kagome não era mais capaz de mexer os lábios, sentia-se paralisada de dor e sua mente não estava mais raciocinando, podia sentir o veneno fluir por suas veias com quentura, alastrando-se por todo o seu corpo e matando-a de modo doloroso.

_Kagome? - Inuyasha percebeu que a chama dela apagava-se lentamente, era preciso agir. "O que devo fazer? O que vou fazer?" – levantou-se com Kagome no colo, tinha que levava-la para a aldeia, talvez Kaede pudesse ajudar, mas e se não chegasse a tempo? Talvez a vila ainda estivesse muito longe e Kagome não agüentasse a viagem, não podia se arriscar a perder a vida dela numa corrida como aquela! "O que fazer?" – questionou-se mais uma vez!

O corpo de Kagome ficou mole, como se não tivesse mais vida e Inuyasha desesperou-se, como jamais havia ficado. Tentava ser frio naqueles momentos de decisão, mas não era capaz, vendo Kagome em seus braços, ele perdia a razão completamente.

O único meio de fazê-la reviver era usar uma espada, uma arma que somente um demônio era capaz de empunhar. Sesshoumaru era a esperança de Inuyasha, talvez estivesse perto, mais perto que Kaede e pudesse ajudar, mas isso seria impossível, seu meio-irmão o odiava, mas...

Era estranho, mas aquele pensamento de pedir ajuda ao seu inimigo mais destrutivo passou pela sua mente como se fosse algo realizável, e assim como o cheiro do odioso ser tocou seu nariz seus olhos se encheram de uma falsa esperança conformada.

Seu irmão estava lá diante dele, rosto impassível, expressão inexistente e completamente desprendida de sentimento. Aquele era o lorde daquelas Terras e tudo que nela havia ele sabia! Olhava a cena sem emoção e tinha um sorriso frio estampado no rosto alvo. Estaria achando engraçada a cena patética de seu meio-irmão? Talvez...

_Inuyasha? – a voz fria cortou o coração do meio-demônio como uma lâmina quente, cheia de ressentimentos, aquele era o jeito de Sesshoumaru, mas pior que isso, aquele era o olhar de um mortal adversário que estava sempre pronto para lutar. – Matou mais uma humana? Não seria esta aquela que te ajudou a desembainhar a Tetsussaiga?

_Sesshoumaru... - ele levantou a cabeça, sua esperança estava na sua frente, mas seu desespero também. Porém, não seria tarefa fácil salvar a pessoa que ele...

CAPÍTULO 3 – UM IRMÃO, UM INIMIGO, UM DESEJO...

_Sesshoumaru? - Inuyasha abaixou-se novamente com o olhar fixo no irmão, então, colocou Kagome gentilmente no chão e tomou cuidado para não bater sua cabeça, não queria alterar seu estado frágil de quem aparentava dormir, talvez aquele sono retardasse o efeito do veneno por alguns instantes. Então, encarando seu meio-irmão, levantou-se e colocou a mão na cintura onde a estava a espada, segurou-a pela bainha e respirou fundo. Tinha no rosto a expressão inquieta de quem não sabe o que dizer exatamente. "Por quê?" Inuyasha refletiu acreditando que aquilo não era apenas mais um capricho do destino, claro que não era, pois como poderia ser? – O que faz aqui? – finalmente disse. Podia sentir um cheiro diferente ao redor de Sesshoumaru.

_... - ele nada disse, mantendo-se frio diante do meio-irmão; aquela figura que ele odiava parecia sofrer, mas isso não era importante! Sesshoumaru estava calado e profundamente introspectivo, mergulhado em seus próprios pensamentos, absorto numa profusão de idéias e desejos que o consumiam por dentro, estava ali por um único motivo e somente por isso mantinha-se diante de Inuyasha. Como seria fácil matá-lo naquele momento, ele estava tão fraco, desprotegido, mas sabia que não poderia fazê-lo, tinha algo mais importante para resolver do que um mero desentendimento familiar. – Senti seu cheiro desagradável nas terras baixas, vim verificar se finalmente estava morto! – enfim resmungou olhando mais fixamente para a cena que se apresentava na sua frente, a morte tinha um cheiro peculiar. "Novamente descontrolado, deveria suspeitar disso! Um inútil que não sabe o poder que possui o sangue dos youkais cães!

Deveria matá-lo agora, para que seu sofrimento durasse a eternidade no inferno!". O cenário era desolador. Homens, mortos com golpes que dilaceraram suas carnes e os deixaram quase que irreconhecíveis, as mulheres daqueles humanos não saberiam diferenciar seus amados uns dos outros. Havia sangue por todo o chão, um verdadeiro rio vermelho cortava a paisagem e um cheiro terrível de mórbido. "Como ele é um idiota!" – pensou voltando-se para Inuyasha, como seu meio-irmão podia ser tão descontrolado e emotivo? Aquele tipo de coisa jamais aconteceria com nenhum youkai puro, mas de Inuyasha só se podia esperar o pior e mais desagradável feito. No entanto, os olhos frios do demônio não pareciam se interessar por tudo aquilo.

_O que aconteceu? - perguntou ao ver a jovem que estava sempre com Inuyasha caída no chão. Parecia dormir serenamente, mas era obvio que estava sofrendo com um veneno que a corria lentamente. Como Inuyasha era inútil, não conseguia cuidar de ninguém, não era capaz de se proteger e nem de proteger quem amava. "Você tem alguém para proteger?" – a voz do pai de Sesshoumaru ressoou em sua mente e uma figura surgiu diante de seus olhos. Ele piscou um pouco mais forte e apagou as lembranças que tentavam vir.

Inuyasha olhava para aquele ser com tanto ódio sabia que era impossível decifrar seus pensamentos. Mas Sesshoumaru sabia o que ele queria. O meio-demônio desviou o olhar do irmão e observou Kagome, dormindo, seu coração parecia ficar cada vez menor, mais fraco e mais doloroso ao vê-la naquele estado, seu sangue de demônio dava espaço ao sangue humano que sente sentimentos profundos e mesmo seus olhos, às vezes cruéis, estavam mais doces e solitários.

_Eu não sei... Kagome está... Sesshoumaru... Preciso ajudar a Kagome... Ela foi envenenada por minha culpa! O que devo fazer? – ele gaguejou com a voz fraca e baixa, sentindo-se perdido e humilhado por pedir um conselho ao irmão, ao ser que mais o odiava e seu inimigo declarado desde sempre. Como era difícil para Inuyasha admitir que sozinho não poderia resolver o problema e que somente seu irmão estava diante dele. Se pudesse bater em Sesshoumaru para curar Kagome bateria, mas se humilhar ao irmão, Inuyasha sabia que era um preço alto, mas que precisava pagar para Ter Kagome de volta. Mesmo estando junto de seu irmão, uma pessoa que tinha metade do mesmo sangue, aquela era a situação mais constrangedora que Inuyasha poderia Ter se envolvido, mas o que fazer então? "O que devo fazer? Eu sei que Sesshoumaru conhece tudo sobre venenos, ele mesmo poderia Ter matado Kagome com o seu próprio veneno, mas não o fez, quem sabe saiba como curá-la?" – este era o único pensamento que possuía. Era como se uma imensidão tomasse conta de seu peito e ele só conseguisse sentir dor e tristeza à sua volta. Estava com medo de perder algo que não sabia que lhe pertencia. "Por favor!" - Inuyasha encarou mais uma vez o irmão. Não ligava para os mortos, para o sangue e para o sofrimento que havia causado e nem o cheiro humano impregnado no corpo, Kagome estava morrendo.

_Você me pede ajuda Inuyasha? Daria à mim, aquilo que eu mais quero, que mais anseio ter? Daria o poder para destruir a tudo só para saber como curar esta inútil humana fraca e sem valor? - ele questionou com o olhar furtivo para a arma que estava na cintura do irmão, como queria poder tocá-la, sentir seu poder fluir pelo seu braço, seu corpo se revigorar com sua destruição e poder matar cem youkai em um único golpe, queria Tetsussaiga! Não se importava com o sofrimento do irmão, ele que sofresse o quanto quisesse, suas lágrimas não serviam para nada e mesmo que fossem úteis, não queria nada que Inuyasha pudesse fazer! Somente Tetsussaiga o interessava! Sesshoumaru queria seguir o caminho da destruição, queria o poder para seguir este caminho. – Talvez possamos fazer uma troca, meus conhecimentos e a vida desta humana desprezível pela Tetsussaiga! - continuou com o tom calmo diante do sofrimento do meio-demônio, as palavras deslizavam pela sua boca com sabor vingativo.

_Sim! - Inuyasha não pensou antes de responder, porque não, tomaria Tetsussaiga de volta depois, daria um jeito, mas naquele momento não havia duvidas, tinha que fazer Kagome viver! Não estava preocupado no que poderia acontecer, só sentia a necessidade de salvar a jovem.
_Mas eu não posso tocar na Tetsussaiga, não é mesmo? Não posso fazer esta troca com você! É uma pena não é? Por isso eu não posso tê-la, porque se pudesse tocar na Tetsussaiga, ela já seria minha há muito tempo! - um sorriso malicioso e cruel tocou os lábios no rosto de Sesshoumaru com uma terrivel vingança que lhe fazia sentir-se bem! Ele desejava possuir a arma de seu irmão, mas, brincar com os sentimentos de Inuyasha era algo muito mais interessante. Como havia um prazer em sentir o medo percorrer os olhos de Inuyasha, de sentir sua respiração aflita, de ouvir seu coração confuso.

_O que você quer dizer Sesshoumaru? Você nunca hesitou em tomar Tetsussaiga e agora não a quer? Isso... - as mãos bateram com violência no chão e fizeram espirrar sangue no rosto do jovem. Como estava com raiva, dor e ira ao mesmo tempo. Queria ajudar Kagome, mas ao mesmo tempo, sentia que tinha que destruir seu irmão. Ele estava confuso, os sentimentos misturavam-se, fazendo os olhos arderem por mais uma morte!

Sesshoumaru manteve-se impassível diante do sofrimento. "Inuyasha, seu idiota impuro! Será que não percebe que esta menina não está morta? Que ela está tão viva quanto nós? Eu só quero brincar com seus sentimentos, seu meio-humano fraco!" - Sesshoumaru desviou-se de um ataque de seu meio-irmão. A luta entre os dois estava para recomeçar...

CAPÍTULO 4 – POR UMA HUMANA...

Inuyasha desembainhou a sua espada e atacou Sesshoumaru repentinamente, havia sido um ataque rápido e, se Sesshoumaru não fosse tão superior ao irmão ou a qualquer outro youkai, com toda certeza poderia ter sido atingido, mas foi apenas preciso um movimento para se esquivar da lâmina de Tetsussaiga. Mas, na verdade, o alvo nunca fora Sesshoumaru, de forma alguma ele queria realmente ferir o irmão com toda aquela raiva que sentia naquele momento; mesmo porque, jamais poderia fazer tal façanha daquele modo, cansado e descontrolado como estava. Inuyasha era seu próprio inimigo.

A verdade é que Inuyasha queria colocar toda a sua ira para fora, todos os sentimentos que ele sentia. Precisava e tinha que fazer algo, não só por Kagome, mas por ele! Estava naquela situação por sua culpa, sua única e exclusiva culpa! Como havia sido egoísta com seus próprios sentimentos, se tivesse respeitado um pouco o olhar de Kagome, talvez ele não estivesse naquela situação. Mas era tarde para lamentar!

O meio-youkai sentia medo, dor, vergonha e raiva, principalmente de si, o que o surpreendia, nunca pensou que poderia se desprezar daquela maneira. Quando criança, por ter sido criado em meio a desprezo, aprendeu com um ser que conhecia que o orgulho era a única maneira de se manter de pé diante do desespero, mas naquele momento, toda a sua honra, seu orgulho de ser quem era e aquilo tudo acabou por desmoronar diante de seus olhos e ele se via perante um muro de mentiras destruído!

Não estava bravo com seu irmão por ele não lhe ajudar, já esperava este tipo de coisa de Sesshoumaru, ele era um ser desprezível, Inuyasha sabia que o meio-irmão youkai sempre o detestará, desde seu nascimento, desde que ele se tornou a causa da destruição de sua alma por completo, mas naquele momento, o sentimento de ira era para si.

Inuyasha havia matado homens inocentes sem razão aparente, estava perdendo uma pessoa muito especial por ter faltado com ela num momento preciso e havia se rebaixado ao ponto de pedir algo para seu irmão. Não, Inuyasha não combatia Sesshoumaru por ter raiva dele, o combatia porque era a única coisa que o fazia esquecer as vergonhas que acumulava em sua consciência.

Sesshoumaru defendeu rapidamente, não era preciso olho critico para perceber que desde sempre ele, Sesshoumaru era superior a Inuyasha, que ele sabia mais do que mostrava, que era mais poderoso do que seu rosto inexpressivo apontava. A diferença de poderes deles sempre foi visível e mesmo que Inuyasha fosse protegido por outros, ainda sim Sesshoumaru sempre foi mais forte que ele. Admitia, havia perdido um abraço por puro descuido, não esperava que Inuyasha fosse capaz de controlar tão rapidamente Tetsussaiga, mas depois daquele erro que lhe custou um membro, ele nunca mais hesitou com Inuyasha, estava sempre atento, pois seu meio-irmão de sangue meio-humano mudava rapidamente de estado e algumas vezes suas habilidades também mudavam.

"Kagome" - Inuyasha ficou cara a cara com Sesshoumaru, podia sentir a respiração tranqüila do irmão enquanto lutava com Inuyasha, como se fosse apenas uma distração. As lâminas das espadas tocavam-se, seus braços forçavam as armas uma contra a outra e as mãos tremiam enquanto seguravam a bainha dos instrumentos. A energia de duas forças distinta que se digladiavam em meio à morte, mesmo assim, Inuyasha parecia ceder, ele estava muito cansado, suas energias haviam sido minadas depois de se descontrolar completamente, aquele tipo de transformação o fazia perder a concentração e a culpa de matar passava a pesa ainda mais em suas costas.

Havia atrito nos olhares, uma tensão nas vozes e certo desprezo ao cenário em volta. Lutavam em meio a cadáveres, em meio a sangue e em meio a destruição causada por Inuyasha.

_Sesshoumaru, seu idiota! O que pensa que é? Por que veio aqui? - Inuyasha foi atirado para trás, caindo. Sentiu-se derrotado, mas mais que isso, sentiu a dor de quem está perdido em meio a uma profusão de sentimentos desconhecidos. Havia sangue em seus lábios, ele limpou com a mão e percebeu que se continuasse daquele jeito seu irmão o mataria sem hesitar. Sesshoumaru havia lhe dado um golpe no rosto. Porém, mesmo percebendo que seu meio-irmão estava indefeso no momento da queda, Sesshoumaru não atacou, não era para isso que ele estava ali. Na verdade, só estava lá para cumprir um pedido de alguém que ele desprezava, não sabia ao certo porque havia aceitado tal proposta, mas depois de meio século, não esperava que aquele ser o procurasse.

_Por que você insiste em querer proteger os humanos? Por que os ajuda? Por que os ama? São apenas pedaços de carnes mal formadas! - ele perguntou guardando a Toukijin na cintura, não tinha interesse algum em gastar suas energias com aquele tipo de briga sem o menor sentido. Inuyasha não estava pronto para lutar, não estava pronto para nada do que aconteceria naquela noite, mas mesmo assim ele precisava experimentar o sabor amargo da humilhação e do passado que pensou ter deixado para trás.

Inuyasha estava desconcentrado e seria um alvo fácil para qualquer inimigo que desejasse sua morte naquele momento. Embora Sesshoumaru fosse seu maior inimigo, sua cabeça não lhe interessava, não num local como aquele! Se tivesse que matar Inuyasha, que fosse do seu jeito! Além disso, era obvio que o meio-demônio só pensava na mulher caída em meio a outros corpos, seria impossível lutar com Inuyasha enquanto seus pensamentos estivessem centrados naquela figura caída no chão.

_Por que sente necessidade de proteger esta garota? – Sesshoumaru insistiu, mas Inuyasha não sabia a resposta, na verdade, talvez soubesse, mas não tinha razão em dizer algo assim para o ser que mais detestava. Porém, era estranha aquela situação, porque Sesshoumaru raramente fala com Inuyasha, raramente desistia de uma luta, raramente o acalmava. Por que estava fazendo tudo aquilo? Nada era de seu feitio!

Calma, era esta a sensação que Inuyasha experimentava agora. Depois de ser jogado pelo irmão no chão e de estar sangrando, ele sentia uma paz interior, como se o soco o tivesse trazido a realidade. Era uma das primeiras vezes que Inuyasha sentia satisfação em ter o irmão por perto, mas ao mesmo sentia-se humilhado por ter certeza que o irmão sabia mais do que ele sabia sobre si mesmo, como isso era constrangedor!

"Vamos Inuyasha, me conte! Diga o que eu quero ouvir!" - Sesshoumaru se aproximou da garota com desprezo, queria ver melhor seu rosto, sua miserável face de sofrimento em meio aos corpos estraçalhados pelo ser que ela amava! Em pé e ao lado dela ele podia ver seu corpo frágil, sua expressão de dor e seu sofrimento. "Ainda está viva!" - e depois, ainda indiferente, voltou sua atenção a Inuyasha. Este se levantava lentamente e guardava a espada na bainha, havia entendido o que estava acontecendo, pelo menos acreditava ter entendido, mas quem compreenderia verdadeiramente? Provavelmente somente os youkais se entendiam! Sesshoumaru não queria brigar e Inuyasha não queria lutar.

_Eu... - Inuyasha gaguejou pela primeira vez. Havia um nó na garganta. Por que era tão difícil dizer o que sentia? Simples, porque aquele ser na sua frente era o ser mais cruel que existia. Afinal, a presença de Naraku havia sumido pelas mãos do meio-demônio há poucos dias. - Eles precisam de ajuda! - resmungou. Mas não era esta a respostas. Sesshoumaru não gostou do que ouviu, não gostou nada de ouvir uma mentira de Inuyasha e embora esta não fosse a primeira vez, Sesshoumaru ficou muito decepcionado com a atitude de Inuyasha em tratar o assunto daquela maneira. Ora, o youkai estava se esforçando para não matar aqueles dois logo de uma vez, Inuyasha deveria pelo menos respeitar tal esforço!

No mesmo momento em que Inuyasha mentiu para seu meio-irmão, este o atacou com tal velocidade que o jovem não foi capaz de se defender, sua velocidade de cão era quase que insuperável. As mãos brancas, com garras afiadas, e tatuadas de Sesshoumaru estavam agarradas ao pescoço de Inuyasha. Ele estava sendo sufocado lentamente enquanto as mãos do ser fechavam-se. Podia sentir a respiração falhar, seus olhos ardiam e ele não era capaz de se mexer. Sesshoumaru estava matando Inuyasha.

"Vamos garoto! Diga o que eu quero ouvir!"...

CAPÍTULO 5 – LEMBRANÇAS...

Inuyasha podia sentir seus pulmões se esvairarem lentamente, perdendo as forças como se mãos os tivessem arrancando, ele sofria com a asfixia que o fazia ir perdendo a consciência, aquele seria seu fim? Sentia-se sem vontade de continuar a viver porque já não tinha mais vontade de continuar. Enquanto as mãos do seu irmão se fechavam sobre seu pescoço, Inuyasha começava a perceber que não queria mais viver, Kagome estava morrendo e ele não podia fazer nada, então não fazia questão de continuar sentindo o sangue nas veias, percorrendo o corpo quente.

Naquele momento de tristeza e de entrega ao final que vinha, as imagens ficaram difusas e lembranças que ele pensou ter esquecido em uma memória quase apagada, passaram a atormenta-lo, penetrando em sua alma como um ácido corrosivo que fazia querer chorar e desistir de continuar, seria melhor ter o mesmo destino de Kagome? Ou será que deveria viver por Kikyou? Haveria motivos para continuar naquela jornada?

"_Inuyasha, você me acha feia? - Kikyou perguntou. Tinha uma expressão triste no rosto, ela sentia o vento passar por seu longo cabelo negro e ouvia de longe as risadas das crianças brincando perto do rio. Como ela queria ser uma jovem normal, igual àquelas que estavam se preparando para casar, queria ter um amor que jamais poderia alcançar!”.

...

“_Poderemos ter uma vida normal - Kikyou ofereceu a Inuyasha a chance de usar os poderes da jóia de quatro almas e assim fazer com que ambos pudessem ter uma vida humana cotidiana. Ela seria uma mulher comum, sem poderes ou deveres purificadores, e Inuyasha deixaria de ser um meio-youkai, e se tornaria um homem completo, o homem que ela amaria para sempre.”.

...

“_Inuyasha!!! – os olhos de Kikyou fixaram-se no alvo que se mexia, ele carregava nas garras a jóia de quatro almas, seu olhar era mal e ao mesmo tempo magoado, sentia-se ofendido por que Kikyou o havia traído daquela maneira tão fútil! Aquela mulher era desprezível! Uma flecha foi em direção ao peito do meio-youkai, ele podia sentir a intensidade na arma que o atingiu em cheio, estava repleta de tristeza. Do outro lado, olhos de dor o condenavam. Kikyou estava morrendo.”

...

“_Meu nome é Kagome! Ka-Go-Me! - uma menina de cheiro estranho brigou com o meio-demônio, ela tinha o olhar decidido e zangado, não parecia nada feliz coma situação em que se encontrava, mas como ela era tão diferente, mesmo sendo, tão igual à Kikyou, os cabelos, diferentes, faziam com que Inuyasha se lembrasse da antiga sacerdotisa. Inuyasha, ainda preso na árvore, onde havia sido selado, parecia admirar e ao mesmo tempo odiar aquela figura nova que se apresentava á sua frente!”

...

“_SENTA!... SENTA!... SENTA!... - gritos que o lembravam e lhe davam uma estranha sensação de paz. Por que se sentia tão aliviado ao ouvi-la dizer àquela palavra que o fazia cair no chão, sentia-se domado e acalentado pela voz de Kagome, que o fazia entender que o mundo não era apenas ser quem era; ele tinha muito mais escondido por trás do medo de ser verdadeiro consigo mesmo.”

...

“_Eu estou com você porque quero! - Kagome fechou os olhos e aproveitou o momento, segurava nas mãos de Inuyasha e sentia o calor de seu corpo, seu coração batia junto com a da jovem humana e eles podiam ver lá longe, no horizonte o futuro que era inesperado! Como queria estar perto de Kagome, ouvir sua voz, sentir seu cheiro e sorrir para seus olhos tão cheios de vida e sentimento.”

...

_Kikyou... Kagome... – Inuyasha resmungou recobrando a consciência, a mão do irmão pareciam ter cedido um pouco, como se não o quisesse matar Inuyasha naquele momento, esperava por alguma coisa. Aquelas duas mulheres! Elas sempre foram duas, mas Inuyasha queria que não fosse assim. Porque elas não eram uma só pessoa? Seria mais fácil entender sua mente se isso fosse verdade, mas não era. Ao seu lado uma sacerdotisa poderosa, forte e determinado e do outro lado uma jovem atrapalhada, cativante e alegre, que o estava curando seu coração. Então, qual escolher? A quem pertencer? Isto, nem a alma do meio-demônio, poderia responder naquele momento, principalmente porque o oxigênio estava desaparecendo de seu corpo.

O ar já havia desaparecido quando Inuyasha reagiu a atitude do irmão. Com os pés ele apoiou-se no peito de Sesshoumaru e o empurrou com toda a força que ainda possuía, até que se libertou das pressas do demônio. Estavam, ambos, caídos, um de cada lado.
Ofegantes, encaravam-se. No ar, uma tensão entre os olhares. Estavam exaltados e Sesshoumaru parecia mais zangado do que antes. Inuyasha, porém, não pensava na luta, nem no meio-irmão, tinha algo mais importante para decidir dentro de si.

_Sesshoumaru, o que você quer? Por que quer saber a razão? Eu só quero protegê-la por que...

O rosto de Sesshoumaru estava impassível. Tão frio quanto a lua que surgia no céu naquele momento. Seus olhos estavam fixos no rosto do irmão e ele não parecia interessado no que Inuyasha dizia, pois ele fugia todo momento da verdade.

"Se Inuyasha não se apressar essa garota não vai sobreviver. Só há um jeito de mantê-la viva e ele não vai ser capaz de perceber isso!" - Sesshoumaru pensou levantando-se, havia se desequilibrado e caído, havia sujado sua roupa com sangue humano derramado no chão.

_Então? Por que protege os Humanos? - ele deu as costas para Inuyasha e começou a caminhar em direção a floresta. Estava indo embora.

Inuyasha não entendia. E dando um passo a frente abriu a boca. Tinha que dizer algo, ele tinha que dar uma resposta para Sesshoumaru, talvez ele soubesse de algo, talvez ele pudesse ajudar.

"Kagome"

_Sei que o que disse antes era mentira. - Sesshoumaru parou. Seu irmão finalmente estava descobrindo a verdade dentro de seu peito. - Não posso ter certeza de um sentimento que não sei se é verdadeiro. Mas, se um dia descobrir o que acontece dentro de mim, só uma pessoa terá que saber disso e saberá, porque ela faz parte de mim. Se eu tenho que dizer as minhas razões, que seja para Kagome, pois é por ela que estou aqui, pedindo a ajuda do ser que eu mais detesto.

Um sorriso quase doentio surgiu nos lábios de Sesshoumaru. A resposta era esta, ele tinha chances de ajudar Kagome. Porém o tempo estava correndo e o veneno espalhava-se pelo corpo da jovem de maneira intensa.

_Há um meio de ajudar esta menina! - o demônio resmungou algo. Não era preciso olhar para Inuyasha e nem ver o quanto ele estava envergonhado de tudo que havia dito. Aquilo era algo de seu intimo e ele havia dito isso para quem mais odiava. Porém, não era hora de ser arrogante, a vida de Kagome estava por um fio. – Mas você estaria disposto a voltar ao seu passado? A enfrentar a realidade da sua verdadeira identidade? Ou você é idiota e não percebe que é um filho do grande Inu-Taysho e que esta fraqueza que possui é ridícula e sem razão de ser?

_Cale-se! Você vai me dizer o que tenho que fazer ou não? – Inuyasha irou-se, estava cansado daqueles jogos mentais do irmão, como um demônio era capaz de se manter tão frio e distante enquanto outros morriam à sua volta, ou sofriam desesperadamente? Sesshoumaru era um grande youkai e poderoso; mas a expressão fria e seu desinteresse pela vida era algo irritante.

_Ela pode resolver este problema. Eu sei fazer venenos, é uma tradição de família que você não foi capaz de aprender porque é um inútil! Mas ela sabe os antídotos, mas você terá que ir vê-la. Para sua sorte ela está por perto ou você não consegue sentir o cheiro daquela desgraçada no ar? – Sesshoumaru disse dando as costas para Inuyasha – Seu sentimento por esta mulher fraca o fez perder o controle de si mesmo, típico de um inútil como você! Sinta o cheiro dela! Está aqui perto e sei que ela pode ajuda-lo, isso se você estiver disposto a ouvi-la, porque eu preferia a cabeça dela no chão e o sangue em volta! – resmungou caminhando para longe de Inuyasha!

_Ela... – Inuyasha pegou Kagome delicadamente pelos braços,havia sentido o perfume que ela emanava no ar.

...

Inuyasha tinha Kagome no colo. Tinha que se apressar, não podia mais perder tempo, Kagome estava perdendo as forças rapidamente e embora sentisse que ela ainda estava viva, seu pulso estava cada vez menos intenso e seu coração tinha o batimento tão lento que seria quase impossível ouvi-lo, mas Inuyasha ainda o escutava, era o som da esperança.

O meio-youkai sabia que Sesshoumaru tinha conhecimento de antigas magias e encantamentos e que aquela que ele odiava também era iniciada nas antigas artes da vida, técnicas passadas de pais para filhos e que somente os dois ainda guardavam tal segredo. Teria que confiar, pela primeira e única vez nas palavras do irmão, ele talvez tenha dito a verdade, ela poderia ajudar?

Os passos aceleraram-se conforme o cheiro se tornava mais forte, estava quase lá, Kagome iria sobreviver, esta era a única maneira de continuar, pensar que Kagome conseguiria agüentar!

No entanto, como advertiu o próprio irmão antes de se retirar completamente, havia um grande problema em toda aquela situação em que o próprio Inuyasha se encontrava, algo que ele não havia entendido completamente, mas que parecia que...

Que ele teria que confiar ao seu coração para poder resolver e salvar Kagome do perigo, ele precisava ter certeza do que sentia...

CAPÍTULO 6 – Uma guerreira solitária e um monge honrado...

A lua iluminava o céu enquanto Inuyasha corria em direção ao local que seu irmão lhe dissera. Porém, mesmo preocupado com Kagome, mesmo tendo sua mente absorta nos pensamentos, algo mexia com seu olfato. Era um cheiro familiar, era o cheiro de alguém que ele pensou ter esquecido e que não mais existia...

...

Lágrimas escorriam lentamente pelo rosto, desfazendo a maquiagem, era um sentimento que fluía com tranqüilidade e paz, como se finalmente tudo estivesse terminado. A jovem sentia um aperto muito profundo dentro do peito, parte de si estava sendo deixada para trás, enterrada num passado distante que ela nunca mais poderia alcançar. Ela não era capaz de falar, a garganta estava seca, o sorriso havia desaparecido e tudo que parecia ser bom, estava um pouco mais feio naquele momento. Todo o seu espírito parecia estar destruído por dentro, morto em uma saudade desesperada, seu coração batia na passada serena do seu pequeno irmão. Era como se seu corpo estivesse presente, mas sua alma tivesse ido embora, junto com a última lembrança do seu passado. E ainda o choro cortava o lindo rosto.

As covas estavam arrumadas, como sempre deveriam ter sido, tinham flores colhidas há pouco tempo; eram as rosas e os cravos, os lírios e as margaridas do campo, símbolos de uma despedida pesarosa que fazia o coração ardem em ver aquela cena de um dia ensolarado com cara de tempestade.

Apenas a voz de um homem pronunciando orações acalentava os mortos ali enterrados, ele lhes desejava uma paz eterna que nunca pode ter, agradecia pelas suas almas estarem libertas e ao final, cantou um mantra para afastar o medo dos espíritos de irem em direção ao eterno.

Havia sofrimento no ar, era um ar pesado, como se o peso do passado estivesse forçando o corpo a se curvar diante da tragédia que havia acontecido naquele lugar, com aquelas pessoas; havia dor e tristeza em todos os lugares, em cada grão de pó que voava com o vento que batia naquele momento, tudo estava impregnado de sentimentos. Era o apelo de uma alma que permanecia de pé, irrelevante a dor que sentia.

A lua logo iria iluminar a aldeia do Clã de Exterminadores, o lar de Sango, o lugar onde ela havia aprendido a ser guerreira antes de ser mulher, onde compartilhou maus e bons momentos, viu seu irmão crescer, seu pai se tornar líder e aprendeu que sozinha jamais poderia vencer, somente com um clã, um grupo, se era capaz de sobreviver às dificuldades do mundo. Mas olhando ao redor, somente a destruição e a morte reinava ali, toda aquela nostalgia havia ficado para trás, nas lembranças manchadas de sangue que a jovem trazia em sua alma.

Sango tinha o olhar caído sob o novo túmulo, aquele que ela jamais gostaria de enterrar estava diante dos seus olhos, dormindo o sono eterno, esperando que sua irmã se juntasse a ele, mas Sango tinha que continuar a viver, havia muito a ser feito antes de se entregar à morte.
A exterminadora não podia acreditar no que havia acontecido nos últimos dias, no que suas mãos haviam feito num momento de desespero e de fraqueza, quando suas esperanças haviam sido destruídas por um sorriso frágil de uma criança que mal havia começado a viver. Mas fora preciso fazer aquilo, fora um pedido desesperado de seu irmão, ele não suportaria viver sabendo no que havia causado para as pessoas, ele não tinha coragem de olhar nos olhos dos outros, nem mesmo para pedir perdão, sua honra estava encharcada de sangue inocente!

Kohaku estava sendo enterrado junto com os outros grandes heróis da aldeia, ele era um herói, pois havia suportado muito mesmo depois de ter sua memória recuperada, havia lutado intensamente quando mais ninguém acreditou nele e viveu sob o fio da navalha, entre fazer o que era certo e o que era fácil. Todos os guerreiros estavam ali, e ele estava sendo aguardado pelos seus ancestrais, para descansar eternamente.

Porém, o coração da jovem ainda estava dilacerado, como se ela mesma estivesse sendo enterrada naquele momento, não queria lembrar que perfurou o sangue do seu sangue para lhe dar a paz de espírito que tanto queria. Mesmo sabendo que não era a culpada dos acontecimentos que se seguiram com a destruição de Naraku, ainda sim ela se culpava.

O monge observava de longe o rosto fechado da jovem, triste em seus desejos de voltar aos tempos de infância. A luz prateada que vinha da lua fazia suas lágrimas brilharem como diamantes que escorriam lentamente por seu delicado rosto, com uma maquiagem suave. A boca dela estava entreaberta e parecia tremer levemente, os olhos fechados em si eram de uma cor intensa e viva, além disso, aquela luz deixava os contornos da mulher mais sedutores do que ele jamais havia visto, como ela era linda. Sempre havia achado isso, mas naquele momento ela estava mais bela do que nunca. "Não é hora de pensar nisso!" – Miroku balançou a cabeça colocando-se consciente de que o momento não era adequado àquele tipo de pensamento. Então, terminou a reza pelos mortos e dirigiu-se para a cabana.

_Senhor monge? - ainda de costas, Sango chamou pelo rapaz, a única coisa que pensava era em poder se apoiar em alguém, como se não pudesse mais sustentar seu corpo, estava cansada, frágil, sabia que logo cairia no desespero profundo da uma tristeza que não seria mais capaz de se recuperar!

Era estranho, sentia-se vazia, sua alma havia deixado seu corpo para a eternidade de seus pensamentos distantes, mas ao mesmo tempo estava sendo invadida de um sentimento que conhecia há muito tempo, mas que só agora aflorara. Era bom estar perto do monge, ele trazia paz ao seu espírito, e ela precisava muito ter paz para pedir perdão a todos os seus parentes e amigos que ali estavam.

_Você está bem Sango? - ele perguntou colocando a mão em seu ombro. Podia sentir a tensão em todo o corpo da jovem, uma dor que era como ácido, matando-a lentamente, exterminado sua alma ainda cheia de juventude. Ela estava triste demais para responder. Podia sentir toda a sua tristeza espalhar-se. – Não chore! Você fica muito mais bela sorrindo! - e colocando os dedos no rosto da jovem, secou o choro. Não conseguia ver aquela bela mulher chorar. Aquilo era pior que qualquer golpe que já receberá. Doía-lhe a alma vê-la triste. – Seu pai não iria querer ver a sua filha chorando e nem Kohaku descansará em paz se você se culpar de sua morte! Eles sabem que o que você podia fazer para vingá-los você fez. Agora descanse seu espírito! – ele disse, Miroku era realmente um homem pervertido, mas também era um monge, alguém que tinha sempre uma palavra de alento aos desamparados, principalmente quando a desamparada era uma belíssima mulher como Sango.

_Miroku. - ela segurou as mãos dele junto ao seu corpo, queria sentir seu calor arder em suas veias. – Obrigada. – suspirou em seus ouvidos.

Então, abraçou o corpo quente do rapaz, deixou toda a sua fraqueza, seus medos e suas angustias saírem de seu corpo através de um choro quase mudo, mas muito intenso, queria poder dizer tudo que sentia naquele momento, mas não era capaz, a garganta estava seca e a dor estava latente demais. Miroku compreendeu o que estava acontecendo e sorriu ligeiramente, ela estavam com ele e confiava nele, como àquela sensação lhe trazia paz, aliás, trazia tranqüilidade aos dois...

...

_Veja Kirara. - Shippou estava na porta da cabana e via a cena. A gata miou longamente, um pouco cansada ou mesmo feliz por estar em casa, mas de qualquer forma, parecia calma. – É! Eu sabia que Miroku não perderia a oportunidade de se aproveitar da Sango! - ele percebeu que o monge se segurava para não passar a mão em locais que Sango não gostava. – Ele deve estar se segurando mesmo! – comentou com a gata. “Espero que tudo de certo desta vez!” – sorriu e entrou novamente na cabana, não havia nada para ser visto!

...

_Está na hora de ir! – a jovem disse olhando fixamente nos olhos do companheiro de lutas, não apenas de luta, mas de viagem, conforto e segredos. Conheciam um ao outro de maneira intima, mas jamais se tocaram naquela maneira. – Eu já pedi perdão, já chorei o suficiente! Agora é hora de seguir em frente. – ela tentava acreditar em suas próprias palavras, mas não conseguia, sabia que tudo era da boca para fora, não seria fácil esquecer tudo com tanta facilidade, principalmente porque seu passado era sua força para lutar!

_Sango! – Miroku olhou para a sua mão com um pouco de descrédito, mas sentiu-se mais seguro ao ver que nada havia. O buraco do vento, a maldição que perseguia sua familia havia se fechado completamente. – Eu quero cumprir a minha promessa, eu quero ficar com você! – ele encarou a jovem com os olhos intensos que possua, tentou se conter de alegria e ao mesmo tempo de expectativa para saber o que ela responderia. Miroku estava cansado de fingir que não havia nada entre eles, sabia que se amavam, mesmo que jamais houvessem se tocado de maneira mais íntima, não que ele não quisesse, mas mesmo sendo tão indelicado, ainda sim respeitava sinceramente Sango e queria que ela dividisse com ele o resto de sua vida. Para Miroku era hora de crescer, de viver, de ser homem e não queria mais ser um monge, um guerreiro ou mesmo um pervertido, além disso, não queria mais ver sua amada como exterminadora, guerreira e triste!

Sango sorriu estranhamente, um sorriso sincero e sereno, havia satisfação em seu olhar, ela não esperava que Miroku lhe dissesse qualquer coisa, como se acreditasse que aquela promessa havia sido apenas em vão.

_Miroku! – ela resmungou quando ele a beijou ternamente, precisava sentir os lábios dela e ela queria tocá-lo daquela maneira. Não era um beijo apressado, nem desmerecido e nem interessado, era algo diferente, cheio de um sentimento guardado por tempos e que agora aflorava lentamente num delicado florescimento da vida. Era apenas um beijo que transmitia todo o seu amor pela mulher que ele desejava desde sempre.

_Ei! – Shippou gritou. – Vamos embora. Inuyasha e Kagome já devem estar no vilarejo! - Kirara correu em direção aos dois. Porém, para eles o mundo havia acabado e o tempo parado, naquele momento, não havia mais nada a sua volta, a não ser o espaço infinito entre um suspiro e outro.

_Sim! - Sango desviou de mais um beijo e preparou-se para partir. - Precisamos ir. – ela sorriu. Ele compreendeu.

...

Antes de saírem do vilarejo, Sango virou-se mais uma vez e olhou para o tumulo de seu pai e irmão e com o rosto limpo de qualquer dor, disse:

_Obrigada. - e partiram em direção ao Vilarejo da velha Kaede.

...

"Agüente firme Kagome!" – Inuyasha parou diante de uma caverna. Lá, uma luz reluzia intensamente. Diante da luz, porém, havia uma imagem, uma figura que se destacava em meio a escuridão e a luz.

Foi um choque para o meio-demônio, ele não conseguia acreditar em seus sentidos. Estava um pouco inseguro com o que via, mas não podia deixar de acreditar, muito menos de desistir de levar Kagome para esta pessoa, ela salvaria a vida da jovem.

_Você... - Inuyasha resmungou aproximando-se da jovem. Kagome estava desmaiada em seus braços...

CAPÍTULO 7 – A youkai do passado...

...

_Você! - Inuyasha estava surpreso, talvez nem fosse surpresa, o sentimento era mais um desprezo. Pensou ter esquecido aquele cheiro familiar, mas ele ainda o cercava. Por instantes, achou até que fosse um devaneio, ele estava desesperado, com Kagome no colo, cansado e perturbado com os últimos acontecimentos, talvez aquilo fosse efeito da luz que vinha da caverna. Porém, caminhando em direção a mulher que estava na entrada, ele percebeu que não estava enganado. O destino havia colocado os dois novamente, frente à frente.
"Aquela foi à última vez que eu a vi!” – pensou parecendo se recordar de um acontecimento fatídico, um dia que ficaria em sua mente para eternidade.

...

”Era uma manhã de sol, o ar parecia mais fresco que o de costume e tudo tinha um tom agradável, como se a vida parecesse ganhar um novo brilho, algo que Inuyasha nunca havia percebido antes. Era estranho, depois de tanto tempo procurando ser um youkai completo, naquele momento ele se sentia completo, mesmo sendo metade homem e metade demônio.
Inuyasha observava de longe Kikyou, como ela era bonita, aos olhos com amarela do rapaz, jamais haveria outra igual à ela, perfeita em todos os sentidos. Esperta e corajosa, uma formidável guerreira, cheia de vida em seu sorriso e um pouco mais intrigante do que ele desejaria, mas mesmo assim, ela era a única que o faria feliz. A sacerdotisa brincava inocentemente com as crianças da aldeia, correndo em roda e ensinando-lhes novas travessuras.
O rosto de Kikyou tinha um sorriso contagiante ela podia sentir que mais alguém sorria satisfeito! A presença de Inuyasha a deixava feliz, quase emocionada, não entendia porque sentia aquilo pelo rapaz, mas era como se ele tivesse a solução para sua felicidade e o meio-demônio não era capaz de desviar o olhar dela, estava enfeitiçado pelos seus gestos!

Ali, encima do telhado de uma das casas, como gostava de ficar depois que Kikyou e ele se tornaram algo mais, ele sentia-se seguro, como se tudo ao seu redor não fosse real, mas era e por isso se sentia bem ali onde estava.

Então, um cheiro peculiar invadiu seus sentidos, era uma mistura de rosas e morte que lhe dava ânsia e ao mesmo tempo respeito, não que fosse temer a um odor como aquele, mas se aquele aroma estava infestando o lugar, era porque ela estava próxima...

Olhos cor cinza observavam-no rigidamente, frios e estranhamente serenos para a imagem que se portava a sua frente: Inuyasha admirando uma humana qualquer! Aquela criatura tinha uma postura tão dura quanto à do irmão de Inuyasha, Sesshoumaru, mas ainda mais exigente do que a do youkai com a marca da lua, isso porque aquela youkai que estava na frente de Inuyasha era uma fêmea muito mal-humorada.

O rosto pálido possuía uma tatuagem na testa na forma de uma estrela negra, suas roupas de nobre e cabelos escuros, como um céu noturno, desciam por suas costas, Ruki sorria para Inuyasha de modo desafiador e um pouco irresponsável, tinha pelo rapaz razoável consideração para não atacá-lo enquanto estava distraído, mas ainda sim, era bom saber que ele estava bem, vivo, mesmo depois de ter ido à busca de uma pedra que o libertasse da condição de humano...

Fazia tempos que não se encontravam, e aquilo não era, realmente uma coincidência, ela estava ali para saber o que estava acontecendo e porque a demora de Inuyasha! Ruki havia deixado Inuyasha partir em busca de respostas quando ele ainda era pequeno, pequeno em termos, já era grande o suficiente para se defender de grandes youkais e possíveis sacerdotes malditos, mas ainda sim, temia um pouco pelo temperamento desequilibrado do garoto.

_Então você veio em busca da Jóia de Quatro Almas, como imaginei, já era de se esperar que você ficasse ansioso em atingir seu maior objetivo na vida, ter o poder de ser igual a todos os outros youkais! – ela resmungou sentando ao lado do jovem, suas botas estavam cheias de lama e agora Inuyasha pode ver que ela não estava ali por acaso, havia um machucado no ombro e alguns arranhões no rosto, ela havia brigado e estava ali para se recuperar.

Foi quando de súbito perguntou:

_Seu irmão não esteve aqui, não é? – questionou sentindo o ferimento doer um pouco mais do que deveria. Ela provavelmente estava preocupada com a segurança do jovem.

_Não! Nem mesmo senti o cheiro daquele desgraçado! – respondeu Inuyasha, mas esta não era a resposta habitual, algo estava estranho!

_Você não sentiria o cheiro dele nem se ele estivesse na sua frente, afinal não está se concentrando e usando seus sentidos como deveria! – Ruki comentou num mal-humor.
Ela percebia que a alma de Inuyasha estava mais leve que o de costume, como se nunca tivesse carregado o fardo de ser meio-demônio. Não sentia o cheiro de demônio comum que normalmente havia nele, mas algo diferente, algo humano, algo de aromático e tranqüilo, um incomodo cheiro de sacerdotisa. Notou também que seus olhos não eram capazes de desviar-se da sacerdotisa da aldeia, como se estivessem pregados nela, aquilo não era um sinal de que Inuyasha iria conseguir vencer uma luta contra ela.

_Me diga Inuyasha, por que ainda não se apossou da Jóia. Afinal, ela pode torná-lo um demônio completo, não é isso que você mais quer? Ser, finalmente, um youkai completo e derrotar seu irmão, ser mais forte que qualquer um, não ter mais que esconder sua natureza selvagem?

_Não posso fazer isso, não quero tomar nada de ninguém! - ele responde rapidamente, a resposta quase fez Ruki desequilibrar-se de onde estava sentada rolar pelo telhado, não podia acreditar que estava ouvindo aquele tipo de comentário. – A sacerdotisa impede. – e, voltando seu rosto limpo para Ruki, encarou-a. Os olhos tinham intensidade quando falavam, procurava conter um sentimento que cada vez mais era evidente, ele estava apaixonado e nada poderia impedi-lo de sentir o que seu coração sentia.

_Pois então deixe que eu mesma mato a desgraçada e lhe dou a Jóia. Sabe a satisfação que tenho em destruir humanos, principalmente sacerdotisas! - ela levantou-se e preparou-se para pular, já podia até mesmo sentir o sangue quente verter por suas garras, queria a cabeça daquela mulher que estava impedindo-a de concretizar sua missão, e mais, queria a morte dela para que Inuyasha não se contaminasse com os sentimentos humanos!

Porém, antes que pudesse fazer qualquer coisa, sentiu um forte puxão em sua roupa, como se garras a impedissem de se movimentar. Naquele momento Kikyou pressentiu o que acontecia, não havia sentido até aquele momento a presença de Ruki, mas quando seus sentidos a alertaram ela não teve duvidas, levou as crianças para longe dali. Não queria que elas fossem atacadas por uma youkai que desconhecia, mas que não parecia ser tão agressiva como parecia ser.

_Me solte. - ela puxou a perna para cima e fez com que as garras de Inuyasha soltassem sua roupa.

_Eu não quero mais ser um demônio! - ele ficou vermelho com a declaração. Era a primeira vez que ele confessava a alguém seu desejo de ficar com aquela mulher. Não entendia ainda seus Sentimentos, mas deseja estar com ela, de ser um humano.

_Está desistindo de um sonho por uma humana? Você me desaponta Inuyasha! Pensei ter lhe ensinado que somente os fortes vivem neste mundo! Fui uma péssima protetora! – Ruki encarou seu amigo, seu protegido. Estava realmente desapontada com aquela decisão, não porque se preocupava com Inuyasha, mas porque se ele se tornasse humano, precisaria dos cuidados de Ruki contra outros youkais para o resto da vida dele e isso a prenderia em seu juramento. Não podia acreditar que estava ouvindo aquelas palavras vinda dele. Tantos anos de proteção, tanta devoção a um jovem despreparado e ele iria entregar o dom de ser um demônio para se tornar um humano fraco! Ruki deixou um suspiro de desanimo escapar, fechou os olhos e refletiu rapidamente sobre o assunto, não tinha muitas escolhas numa situação como àquela Inuyasha estava inflexível! – Pois bem. – ela virou as costas para Inuyasha. – Não há mais nada a ser feito, por hora! – disse frisando a ultima parte da frase como se fosse realmente arrumar um jeito de consertar a situação.

_Você concorda? – perguntou esperançoso que sua protetora concordasse com ele, parecia ser importante para ele que Ruki dissesse algo, mesmo que fosse a reprovação. Desde sempre ela estava presente na sua vida e, mesmo com saudades de sua mãe, ela tinha na figura de Ruki, uma segunda mão materna a segurá-lo.

_Não Inuyasha! Além disso, pressinto algo estranho no ar. - ela respirou fundo. Ainda estava assustada com a novidade. - Talvez não possamos mais nos ver, talvez isso seja apenas o começo de uma jornada, talvez você ainda precise de mim! - Ruki voltou seu olhar para Inuyasha com uma intensidade tão forte que ele pode se ver dentro do globo cinza dos olhos frios de Ruki - Inuyasha, quando não houver mais onde encontrar respostas, eu estarei esperando por você. Eu sei que nos encontraremos, não tão logo como gostaria, mas no fim de uma jornada. - e virando-se - Eu sinto que nada de bom virá desta sua decisão, esta humana não é suficiente para você! Isso mudará o seu destino. - e sumindo como apareceu, Ruki deixou Inuyasha com sua decisão, com o seu destino traçado”.

...

_Inuyasha! - não havia sorrisos, nem olhos felizes e nem carinho na voz, ela continuava fria, na verdade, estava mais seca do que normalmente havia sido, como se aquele momento não fosse nada mais que uma paisagem simplória e sem graça alguma. Ruki não estava nada diferente da ultima vez que se viram seu corpo, sua alma e sua mente ainda eram impassíveis aos outros que o rodeavam. Pelo seu olhar sem vida, Inuyasha só podia supor que ela sabia que um dia ele voltaria a ela, que um dia ele precisaria novamente dela. Mas isso era uma mentira, muitas vezes desejou que Ruki o ajudasse e que o protegesse, mas ela nunca mais veio, nem mesmo respondeu aos seus pensamentos, como fazia antes, por longos anos ela ignorou a existência de Inuyasha e agora estava diante dele, como se o ultimo dia em que se viram tivesse sido no dia passado.

_Ruki, eu... – mas antes de completar a frase percebeu que não adiantaria dizer nada, nada faria Ruki mudar a expressão.

_Entre, está ficando frio e o corpo desta humana medíocre pode não sobreviver! - ela deu as costas e caminhou em direção ao fogo que ardia dentro da caverna. Os cabelos longos e negros estavam presos numa longa trança e a luz do fogo lhe dava um tom mais alaranjado, os olhos voltados para o vazio não podiam ser compreendidos, Ruki era a mesma youkai que sempre havia sido! - Coloque Kagome aqui. - ela indicou uma esteira feita de bambu.
Inuyasha percebeu que já era esperado por ela. Ruki sabia o que estava acontecendo, sabia o nome da humana e sabia o que fazer para ajuda-la, se por um lado isso era pacificador, por outro era preocupante, se Ruki sabia de tudo isso, certamente sabia mais ainda, nada escapava ao olhar dela, nem dela e nem de Sesshoumaru. Como Inuyasha odiava aqueles dois demônios!

_Dê-me sua mão. - ela estendeu a mão dela e esperou que o meio-demônio colocasse a dele sobre a dela. O corpo de Ruki era quente, como o de qualquer ser vivo, mas pelas suas veias passava o mesmo veneno que nutria os a vida dele e de Sesshoumaru: o ódio. – Espero que você sinta algo por esta jovem, caso contrário, ela morrerá! - mas antes que o meio-demônio pudesse responder a afirmação de Ruki uma dor terrível o invadiu, como se estivesse perdendo parte de sua mão. Ruki havia perfurado a palma da mão do jovem com uma adaga de prata tão afiada que poderia cortar um fio de cabelo em dois. O sangue aflorava rápido, ela havia acertado uma excelente veia!

Ruki despejou o sangue dentro de uma cumbuca de madeira rústica que parecia ser mais velha que a própria youkai. Depois acrescentou algumas ervas, um pó estranho e algumas pétalas de uma flor mal-cheirosa, e começou a mexer, misturando os ingredientes e fazendo um grude estranho. Adicionou água. Durante todo aquele tempo, só o estralar do fogo fazia ruído, queimando a madeira lentamente, Inuyasha às vezes jogava uma tora para não deixar que ele se apagasse. Era como se nada estivesse acontecendo, como se aquela cena nunca tivesse existido. Inuyasha sentia-se mais só, solitário em seu próprio e triste mundo, que o de costume. Sentia como se tivesse perdido uma parte de si. Kagome estava perdendo as forças e ele confiava à vida dela a um ser que não parecia estar feliz em ajudar.

"Ela faz isso por obrigação! Deve fazer tudo o que for necessário para que a minha vida seja completa. Será que ela finalmente aceitou?" - pensou assim que Ruki levantou de onde estava e dirigiu-se a Kagome num passo lento e simples, não tinha vontade de agir, mas agia porque seu braço ardia em brasa.

“Maldito juramento!” – pensou ajoelhando-se ao lado de Kagome e apoiando sua cabeça para trás. Então, abrindo a boca dela, despejou o liquido que ali havia, um cheiro estranho e um gosto amargo, foi percebido por Kagome, mas ela ainda estava um pouco inconsciente e reagia lentamente aquele odor ruim e o gosto detestável.

A jovem bebeu, quase engasgou, mas ingeriu todo o conteúdo que ali havia. Inuyasha achou um pouco nojento, Kagome estava bebendo parte do seu sangue, mas nada pode fazer para impedir Ruki, naquele momento ela era sua ultima esperança, um fantasma do passado que insistia em viver.

_Inuyasha, você sabe o que está acontecendo com Kagome? Você sabe o porquê ela está tão fraca assim? Afinal, foi necessário mais do que eu esperava para fazê-la reagir ao veneno do corpo. - ela sentou-se novamente do outro lado da fogueira.

_Sim, ela foi envenenada, dois ladrões a envenenaram, eu sei disso! - respondeu rápido. Podia sentir o cheiro de homens e de veneno no corpo jovem de Kagome, sentiu raiva de si por ter deixado isso acontecer. Porém, uma risada quase sutil fez com que ele percebesse que não era verdade o que dizia e nem no que acreditava ser verdade. A realidade estava diante dele. Inuyasha não sabia o que era, mas podia sentir algo de estranho acontecendo com Kagome.
_Deixe-me dizer o que está acontecendo, antes que ela morra...

CAPÍTULO 8 – Kagome... Morta?

...

_Deixe-me dizer o que está acontecendo, antes que ela morra... - Ruki encarou com seriedade Inuyasha, conhecia aquele meio-demônio desde sempre, estava lá em seu nascimento e estaria em sua morte e ele nada podia esconder dela, nem mesmo seus segredos mais profundos e desconhecidos, a youkai conhecia todos os seus mais inoportunos defeitos e suas qualidades mais desagradáveis, tinha total consciência de que Inuyasha jamais poderia enganá-la, mesmo que acreditasse piamente no que dizia.

O olhar cinzento de Ruki era profundo, penetram de maneira incomoda, e Inuyasha sentiu-se intimidado por tamanho poder, não era uma sensação de derrota, mas era como se não pudesse se mexer. Sentia-se submisso à ela, e isso acontecia tanto quando estava diante de seu irmão Sesshoumaru, como quando estava diante de Ruki, os dois pareciam exercer tanta influencia no mundo de Inuyasha que as vezes ele não sabia se ele é quem comandava seu próprio mundo.

O jovem rapaz podia sentir em seus olhos um sentimento estranho, algo que Ruki fazia e o deixava inquieto. Ele já havia visto nela uma expressão como aquela, na ultima vez que se viram. O meio-demônio parecia cheio de medos e de inseguranças que não demonstrava, mas que ele sentia. Inuyasha estava com medo de perder Kagome, assim como teve, em sua prisão, medo de ter realmente sido traído por Kikyou. Como foi difícil ver Inuyasha ser pego numa armadilha como aquela, acreditou que ele perceberia tudo, que talvez o amor entre aqueles jovens fosse real, mas se enganou e pior, acabou destruindo um futuro possível...

_Ela vai... - mas o jovem não foi capaz de terminar a frase. Não só porque tinha receio de ser verdade que Kagome estava morrendo, mas também pelo fato de que Ruki balançava a cabeça negativamente. Não era nada e era tudo, o que estava acontecendo? Porque aquela inquietação não saia do peito de Inuyasha.

Ao perceber que Kagome estava segura, pelo menos naquele momento, o coração de Inuyasha acalmou-se, batia com mais serenidade, porém, pela expressão de Ruki, nada era tranqüilo ou sereno, muito sofrimento ainda haveria. Mas para Inuyasha era uma sensação de felicidade que o fazia encher-se de esperanças de um novo dia que logo surgiria. Agora ele poderia ver o sol nascer com mais suavidade, ela sobreviveria àquela noite de tristezas.

_Ela não vai morrer. – Ruki disse num tom sóbrio e ponderado – Não esta noite! – terminou a frase deixando uma pequena agulha penetrar no peito de Inuyasha.

_O que? Ela não está bem? Daqui eu posso sentir seu coração bater, o veneno já foi purificado! – ele tentou argumentar. Ruki fingiu não ouvir.

_Isso é suficiente para você? – perguntou sem emoção.

_Ela esta viva não é?

_Sim. – confirmou Ruki, ainda sim nada parecia soar bem. - Porém... - Ruki jogou alguns tocos de madeira no fogo, para que ele não apagasse ou ficasse fraco, Kagome precisava do calor das chamar para aquecer seu corpo humano e frágil. - Inuyasha, você não respondeu? Tem bons sentimentos pela garota? Você à ama? - ela insistiu, desprezando o sorriso do jovem enquanto este olhava para Kagome.

_Você já me fez esta pergunta uma vez! – ele respondeu lembrando-se do ultimo e fatídico encontro com sua protetora. Ela não havia mudado nada, ainda odiava humanos, ainda queria se livrar da responsabilidade de ser quem era; ainda era uma youkai sem coração.

_Me responda! – ordenou.

_Como assim? - perguntou voltando-se para Ruki. Não era a primeira vez, também, que lhe perguntavam isso naquele dia, como se todos soubessem de algo que ele não conseguia entender, Sesshoumaru e Ruki jamais se importaram com seus sentimentos, certamente sabiam de algo que estava acontecendo e não queriam revelar, caso contrário, não o teriam socorrido. Mas o que mais o surpreendia era o fato de que aqueles seres que ele jamais imaginaria estarem interessados em sua vida fizessem tal pergunta. - Eu...

_Não é necessário responder. - Ruki apressou-se em dizer quando pressentiu que Inuyasha estava pronto para mentir sobre aquele assunto, odiava ser enganada e podia sentir quando alguém mentia, o coração e a respiração mudavam, suas expressões mudavam, era impossível mentir para ela, ou mesmo para Sesshoumaru, eram youkais refinados demais para serem enganados com tanta facilidade. – Apenas sinta o seu coração, por que só ele pode salvar Kagome! - ela levantou-se, parecia cansada, como se tivesse viajado muito até chegar lá!
“Eu não esperava que ele entendesse nada do que está acontecendo, mas não posso culpá-lo por tudo o que aconteceu, a única coisa que posso fazer é esperar que ele entenda que esta humana é apenas um objeto sem qualquer importância!”. – Ruki refletiu respirando fundo.

“Sesshoumaru e eu já sabíamos que isso aconteceria, mas preferia não ter recorrido à ele, mas Inuyasha estava descontrolado, foi necessário pedir que Sesshoumaru fosse! Nunca pensei ter que me humilhar daquele jeito novamente à ele!”. – sentiu raiva de Inuyasha por ser a causa de tudo.

Os olhos de Inuyasha a seguiram enquanto ela fazia movimentos suaves. Seus sentimentos salvariam a garota? Como seria possível? Então, ele olhou para a mão. Não estava mais sangrando e ele sentia o ferimento fechando-se lentamente. Sua recuperação era rápida.

“Kagome... Eu não entendo o que está acontecendo. Não era para eu me descontrolar daquele jeito, mas eu me afastei demais de seu coração e senti como se estivesse sendo tomado por um ódio terrível e não pude controlar, nem mesmo Tetsussaiga conteve a onda de raiva que eu sentia!”.

Ruki sentou-se ao lado de Kagome. O rosto da menina estava mais tranqüilo. A dor que ela sentia estava amena e seu coração pulsava em ritmo suave. O ar entrava como um suspiro em seus pulmões, ela parecia recobrar a vida. Estava dormindo.

_O veneno já saiu do corpo dela. - a youkai avaliou melhor a expressão de Kagome. - As ervas já fizeram efeito. - ela olhou para Inuyasha, tinha que contar o que estava acontecendo com a garota, mas não sabia se o meio-demônio era capaz de entender.

_Então ela está bem! - afirmou Inuyasha, mas novamente os olhos de Ruki condenaram sua esperança. Não era verdade, o que ele havia dito. Mas, o pior, era que em seu coração Inuyasha sabia que algo estava acontecendo com Kagome e ele não podia fazer nada para ajudá-la.

_Ela está morrendo! Você sabe disso melhor do que eu e não quer enfrentar este pesar! – ela falou num tom bravo com Inuyasha, ele se recusava a perceber o que seu coração já havia entendido há muito tempo. – Já disse, ela vai morrer mais breve do que se pode querer! - e num tom de irritação, voltou a sentar-se no seu lugar. - Não era o veneno que a estava matando! Isso é ridículo, homens comuns não sabem fazer venenos poderosos e seria fácil curá-los com uma erva qualquer! – ela respondeu tentando conter a raiva na voz. – Ora, não me diga que não percebeu? O poder dela está esvaindo-se lentamente do corpo! - Inuyasha não queria acreditar no que acabara de escutar. Seus olhos brilharam com o fogo, uma dor imensa invadiu sua alma e a vontade de gritar foi imensa, mas era preciso se controlar.

_Por quê? Então por que meus sentimentos podem salva-la? Por que meu sangue? - Inuyasha questionou, talvez fosse apenas mais um jogo para Ruki. Sabia que ela gostava de brincar com seus sentimentos. Sabia que, assim como Sesshoumaru, ela era fria e ardilosa. Não sabia mais no que acreditar.

_O sangue é um meio que achei para manter sua vida ligada a dela temporariamente. Assim, durante cinco dias, ela estará ligada a sua alma. Isso quer dizer que terá o poder de recuperação da sua metade de demônio, mas manterá a mortalidade de um humano. Mas isso não é o ponto. Passados estes cinco dias, a vida dela se extinguirá! - respondeu com a voz mais calma. Não havia expressão alguma em seu rosto. Era tão insensível como Sesshoumaru.

_Mas...

_Escute Inuyasha! Só vou dizer uma única vez, sabe como odeio ter que repetir mais de uma vez algo! – ela disse sem se incomodar com a dor que invadia a alma de Inuyasha – Kagome deve voltar para a Era dela e o poço deve ser lacrado, sem discussões e sem questionamentos! – disse inda mais fria do que normalmente era. – Só assim ela sobreviverá! Isso porque ela está morrendo desde que Kikyou tomou parte da alma dela para si! - então Ruki retirou de uma bolsa de couro feita de pele de youkai uma fruta madura e vermelha. - Vê esta maçã? – mostrou a reluzente fruta com um pouco de desprezo – Observe, ela está inteira, forte e bonita. – então sacou por debaixo das mangas da roupa feudal e aristocrática um punhal – Porém, ao dividi-la em duas metades, ela perde parte de sua força, parte de sua beleza. Agora, com o passar do tempo, ambos os pedaços vão morrendo e deteriorando, e isso acontece com todos, mas quando se divide algo, bem... – um sorriso maldoso pairou – A fraqueza aumenta em dobro! – revelou – É isso que está acontecendo com Kagome. - Ruki mordeu a maçã e mastigou lentamente. Inuyasha precisava de tempo para entender tudo, sempre teve dificuldade em encarar de frente um problema quando ele aparecia e aquele era realmente complicado.

Kagome estava ao seu lado, dormindo ternamente. Mas, ao mesmo tempo em que seus sonhos iam e vinham e a vida dela fluía para fora de seu corpo. Inuyasha podia sentir um pouco de fraqueza em sua mente, como se levasse em seus ombros mais alguém.

_Então Kikyou também está morrendo? - perguntou preocupado.

_Sim! – terminou de comer parte da fruta – Uma sacerdotisa desprezível, porém muito resistente! Insiste em viver quando já deveria estar morta. – comentou jogando os restos da maçã no fogo e ouvindo os estralos fortes. – Mas ela pertence a este mundo, não é verdade? Além disso, possui carregadores de almas que a nutrem com novas almas e ela pode viver sem o medo de ter a sua vida roubada mais uma vez. Porém, Kagome...

_... - Inuyasha suspirou. Estava tranqüilo, mas ao mesmo tempo nervoso. Kikyou estava salva, mas Kagome não. O que fazer? O que sentir?

_Kagome trouxe com ela, não só a jóia de quatro almas, mas a alma de Kikyou de volta, perceba, há um desequilíbrio muito forte entre os mundos, ou você não sente a pressão de duas realidades se chocando cada vez que Kagome atravessa o poço? – Ruki disse sem se preocupar mais com a relevância que a vida de Kagome representava para ela. – Deixe-me explicar uma coisa. – ela olhou para Kagome – Kikyou morreu com assuntos pendentes e por isso, metade da sua alma e a Jóia voltaram para o mundo dos humanos juntamente com a alma de Kagome. Ou seja, Kagome possuía duas almas numa só, ela é a humana de duas almas! A de Kikyou era uma metade e a outra pertencia a ela mesma, era a alma de Kagome propriamente dita.
Uma tosse forte. Kagome estava reagindo ao antídoto com rapidez. Além disso, a Jóia de Quatro Almas, completa e ainda corrompida, parecia retardar o efeito do remédio, mas nada que atrapalhasse a destruição do veneno.

Ruki podia sentir o poder da Jóia. Como a desejou...

_Quando Kikyou ressuscitou, bem, ela tomou parte da sua alma de volta. Entendeu? Ambas, Kikyou e Kagome possuem metade de uma única alma. Porém, Kikyou pode usar almas de outras pessoas já que está meio morta. Mas Kagome não! Kagome não pode viver sem sua alma inteira.

_Mas qual a diferença entre levá-la para sua era e ela ficara aqui? - a impaciência de Inuyasha sempre irritava Ruki! Ele não percebia a diferença, ele não percebia nada, tinha o raciocínio lento e a delicadeza de um elefante quando se tratava de seus próprios sentimentos, um idiota que não usava o cérebro!

_Lá, não existe Kikyou! - respondeu brava – Lá é como se a alma dela fosse completa. Isso quer dizer que ela pode viver com tranqüilidade, porque sua alma é como se fosse completa, entendeu?

_Então, Kagome vai morrer se não voltar para a sua era, mas porque lacrar?

_Para que não haja mais nenhum vinculo que ligue ela a nossa era. Pois enquanto houver possibilidades de voltar para cá, há uma meia alma vivendo nela!

_Inuyasha... - uma voz sussurrou fraco.

_O que você vai fazer Inuyasha? Deixá-la morrer? Ou viver sem ela para sempre? – Ruki levantou-se e foi até a entrada da caverna. Dali ela podia sentir o cheiro de Sesshoumaru perto, mas distante o suficiente para permitir acreditar que estava em segurança. Aquela já havia sido uma questão que ela mesma, Ruki, tivera que enfrentar.

“_Essa é minha palavra final – disse Sesshoumaru inflexível, com, sua voz fria e suave, num tom sereno que apenas deixava Ruki nervosa. Aquele youkai tinha uma pressão vital tão forte que ela mal conseguia pensar quando estava perto dele e estava lá, os dois...”

Kagome abria lentamente os olhos, sentia seu corpo doer muito. A Jóia de Quatro almas brilhava, com um negro lapidante.

"O que vou fazer?" - Inuyasha pensou aproximando-se de Kagome...

CAPÍTULO 9 – De volta ao Vilarejo

Kagome estava nos baços de Inuyasha. Podia sentir seu calor, seu cheiro suave, ouvir seu coração bater rápido e sua respiração ofegante. Ele corria em direção à aldeia da velha Kaede. Só tinha cinco dias para descobrir uma solução, só tinha mais cinco dias para entender o que seu coração dizia.

"O que fazer?" - Seus pensamentos vagavam em possíveis soluções. Todas vazias, todas erradas. Seu olhar distante trazia a Kagome uma angustia maior. Embora estivesse sentindo seu corpo dolorido, não era capaz de se lembrar de nada. Na verdade, a última coisa que era capaz de visualizar em sua mente como uma lembrança distante era um campo aberto banhado por sangue. Mas aquilo era só uma imagem confusa.

"Inuyasha foi atrás de Kikyou! Então por que ele está aqui?" - Kagome desistiu de entender os acontecimentos passados, não era capaz de pensar em nada. Preferiu fechar os olhos, sentir a brisa passar por seu rosto enquanto Inuyasha corria, corria o mais rápido que podia.

...

"Estamos chegando" - Sango pensou preparando Kikara para descer. Estavam próximos da aldeia de Kaede. Haviam combinado de se encontrarem lá. Afinal, Kagome e Inuyasha tinham que fazer algo antes de irem para a aldeia e por isso tinham se separado.

_Miroku? - Shippou sussurrou no ouvido do monge. - Por que você beijou a Sango? - perguntou indiscreto - Também quer um filho dela? - então sentiu uma mão vinda ao encontro da sua cabeça.

O monge estava vermelho, envergonhado como nunca havia ficado antes. Não conseguia acreditar que uma criança como Shippou era capaz de entender o que ele sentia. Sim, ele queria ficar com Sango, mas como deixar todas as outras mulheres? Como deixar seu vício de monge? Mas seus sentimentos por aquela mulher afloravam de maneira tão doce que ele não era capaz de perceber o quanto gostava dela.

_Por que você fez isso Miroku? - o demônio raposa gritou ao descer de Kirara, sua cabeça doía! Era a primeira vez que apanhava do monge e, mesmo sabendo que a mão de Inuyasha era mais forte, ainda sim aquele soco havia machucado!

_Shippou não comente isso com ninguém. - Miroku ameaçou mostrando o punho direito. - Posso não ter mais o buraco do vento, mas ainda tenho outros meios! - comentou dando as costas para o garoto.

Sango não estava ali. Na verdade assim que desceu na aldeia ela correu em direção ao riacho, estava com sede. O sol enchia seu corpo de vida novamente, estava aprendendo a viver. Sentia-se como uma flor que nasce em meio a um cemitério, pequena, mas forte.
“Ele me beijou!" - pensou tomando um gole de água. "Por quê?" - havia uma duvida em sua mente. Ele estaria amando-a? Ou só queria aproveitar-se dela? Tanto tempo junto ao monge lhe trazia lembranças de como ele tratava as mulheres das aldeias em que passavam. "Mulherengo!" - pensou jogando a caneca no chão, partindo-a em duas!

...

_Kagome! Estamos chegando! - Inuyasha disse olhando a fumaça que saia de uma das casas. - Você está bem? - e num salto ele aproximou-se do vilarejo.

_Inuyasha? O que aconteceu? - aquela pergunta o fez parar imediatamente. Ele não havia dito nada para ela, desde que ela acordou, na caverna até agora, ele tem se preocupado com suas forças, mas não havia sido capaz de revelar a verdade para a jovem.

_Você teve uma noite muito ruim, não vale a pena lembrar. - resmungou colocando a garota no chão. - Consegue andar?

_Sim. - as roupas estavam rasgadas. Ela sentia um cheiro estranho em seu corpo e estava cheia de ferimentos nas pernas e nos braços. Sabia que algo de muito ruim havia acontecido, mas tudo havia terminado e ela estava de volta ao começo. Tinha a Jóia em seu poder, Inuyasha perto dela e podia sentir que seus amigos estavam na aldeia. Uma brisa inundou seus pensamentos, balançando seus cabelos e a fazendo respirar fundo, sentindo a vida entrar em seu corpo.

Vida, Kagome não sabia que a dela estava se esgotando rapidamente. E Inuyasha nada podia fazer para impedir, Inuyasha não podia salvar Kagome como havia prometido. Ele não era capaz de manter a sua palavra, ele estava perdendo-a.

Era estranho, mas caminhando para a aldeia, ambos calados, Inuyasha lembrou-se de tudo que havia passado. Kagome sempre esteve com ele, nunca o abandonou, por mais que ele tenha tentado afastá-la de seu coração, ela entrou, arrombou a porta e se instalou em seus sentimentos de maneira intensa. Mas ainda havia Kikyou, uma amor antigo, uma paixão mal acabada, mal esquecida. Inuyasha estava calado e inquieto.

Kagome podia sentir algo conflitante em Inuyasha, mas não era capaz de dizer nada a ele. Sentia como se aquilo só fosse machucá-lo mais ainda, ele parecia sofrer. Além disso, Kagome tinha que purificar a Jóia. Podia sentir seu poder corrompido chamar outros youkais poderosos que estivessem interessados em usá-la para o mal. Era preciso se apressar.

...

_Kaede! - a voz serena que chamou Kaede era conhecida. E embora a velha estivesse de costas, foi fácil adivinhar quem a chamava.

_Minha irmã. - respondeu a velha terminando de arrumar um vaso de flores no tumulo de Kikyou. Eram flores brancas, arrumadas num pequeno vaso. Havia incenso e um aroma de laranja no ar.

_Ela está voltando! - comentou Kikyou ao ver o cuidado que sua irmã tinha em limpar seu tumulo e cuidar dele. Era uma tarefa quase diária, mas que Kaede parecia fazer com satisfação. Mas por quê? Será que não via que a irmã estava viva? Será que não aceitava o fato dela ser apenas uma mulher feita de barro? Um sentimento de tristeza invadia a alma de Kikyou. Sentia-se ofendida pela indiferença da irmã.

_Você veio para ajudar a purificar a jóia, não é? - Kaede encarou a irmã. Podia ver em seus olhos que não era só por isso que ela estava ali. Havia mais do que uma obrigação nos seus olhos. Ela tinha assuntos pendentes naquele plano, por isso sua alma nunca havia descansado. Kikyou tinha que terminar o que havia começado.

...

Inuyasha correu para onde Kaede estava, podia sentir seu cheiro. Sabia que ela estava no tumulo de Kikyou. Ele precisava falar com a velha. Correu mais uma vez. Subiu rapidamente as escadas e num salto parou diante do tumulo. Olhou-o com respeito e tristeza.

_Não estou morta Inuyasha - A voz de Kikyou fez com que ele sentisse uma dor no fundo do peito.

_Kikyou?...

CAPÍTULO 10 – Kykiou x Kagome... Sacerdotisas

...

Kagome estava cansada, já era de se esperar, as lutas haviam sido longas e difíceis, os inimigos assolavam-na à todo momento por ser uma sacerdotisa e por mais que quisesse esquecer, tinha que conviver com a rejeição de Inuyasha, porém, ela não podia deixar de se sentir feliz por estar ali, mesmo com todas as dificuldades, ela havia sobrevivido e cumprido sua missão, recuperado todos os fragmentos da jóia de quatro almas e mais ainda, havia vingado a morte de Kikyou matando, ou melhor, ajudando a matar Naraku.

Seus amigos estavam ali, a sua espera, esperando que ela finalmente pudesse viver em paz, porque todos sabiam que ela não era daquela era e por isso não era, realmente, sua obrigação ir até lá, interferir no passado, mas mesmo assim, ela estava lá, ao lado deles, principalmente ao lado de Inuyasha, controlando os impulsos complicados daquele meio-youkai.

Bem, Miroku estava um pouco estranho, porque não havia saído para paquerar as meninas da aldeia, como fazia de costume, mas Kagome pressentia alguma coisa, porque o monge não se comportaria daquela maneira sem uma real razão de ser. Sango estava mais falante do que normalmente poderia ser, parecia feliz, alegre e finalmente livre do passado que tanto a machucava. Kagome podia sentir os olhares quase indiscretos que a amiga lançava para Miroku, que os retribuía com a mesma intensidade. O monge, naquele momento, falava algo em tom quase que sussurrante para Shippou, que balançava a cabeça concordando com o que ouvia.

Kagome não era capaz de imaginar o que havia acontecido enquanto ela esteve fora, não sabia o que Miroku e Sango haviam descoberto um sobre o outro, mas podia sentir que era algo bom, era algo que poderia mudar a vida dos amigos, uma mudança que apenas faria com que as tristezas passadas ficassem distantes e esquecidas num passado remoto.

_O que aconteceu Kagome? Por que suas roupas estão rasgadas? O que Inuyasha fez desta vez? Aquele meio-youkai descuidado! – a velha Kaede entrou na cabana com um olhar um pouco pesaroso e os pensamentos distantes. Havia descido do templo assim que Inuyasha chegou ao túmulo. Não era ela que o jovem procurava, era a sua irmã e preferia não se intrometer naquele assunto, pois o passado era a única ligação que eles possuíam e ela não fazia parte desta historia quase deixada para trás.

_Não sei ao certo. – ela disse desconcertada com a situação, realmente estava vestindo trapos do que foi seu uniforme de colegial – Fui atacada por ladrões e minhas roupas, bem, ficaram rasgadas quando fugi. - ela respondeu um pouco confusa. Agora percebera, seu uniforme de escola estava todo sujo e destruído, sua mãe ficaria chateada em vê-la naquele estado. Mas o que fazer? Inuyasha precisava da ajuda dela, isso ela lembrava e por mais que estivesse em apuros, precisava ajudar Inuyasha e por isso fez de tudo para fugir dos ladrões.

_Tudo bem! – resmungou a velha num tom tranqüilo, a paciência sempre foi sua aliada. – Acho que posso lhe dar uma roupa da minha irmã. - e caminhando para um cômodo ao lado, colocou em cima de um banquinho de madeira o quimono que Kikyou usava costumeiramente.

_Obrigada. - Kagome agradeceu enquanto a velha saia do quarto para ela se trocar.

"Kikyou..." - a jovem pensou enquanto vestia-se. Não a culpava, nem a odiava. Na verdade, sentia sim um ciúme pela mulher, mas acredita que aquilo era normal. Afinal, ela decidiu concertar o corpo de Kikyou, ela salvou Kikyou de um demônio, ela cedeu parte de sua alma para ela. Não era raiva que sentia, era ciúme e uma inveja. Ciúmes por ela ter o coração de Inuyasha e inveja porque ela não sabia se um dia poderia ser tão poderosa quanto a sacerdotisa.

...

_Kikyou? - Inuyasha sentia-se petrificado por dentro. Ao mesmo tempo em que se sentia feliz em ver a mulher, algo em seu coração doía, como se estivesse fazendo algo errado, como se fosse uma criança fazendo algo que não deveria fazer.

_O que foi Inuyasha? Parece que viu um fantasma - perguntou seca a sacerdotisa. Era estranho o olhar de indiferença dela. Mas, mesmo com o rosto inexpressivo, era possível se detectar uma alegria estranha em seus lábios. – Será que se esqueceu do meu cheiro...

_O que faz aqui? - perguntou quase gaguejando. Suas mãos estavam paralisadas, ele não era capaz de se mover. Então se lembrou. "Na noite em que fui procurá-la, Kagome foi pega por ladrões!" - e o pensamento o trouxe de volta a realidade. – Eu queria falar com você, eu preciso falar com você, eu...

_O que foi Inuyasha?

_Agora que Naraku está morto...

_Eu vim aqui para cumprir com o meu destino. - resmungou dando as costas para Inuyasha e caminhando para o templo. Logo iria anoitecer e o ritual de purificação da jóia teria inicio.

_... - Inuyasha não foi capaz de dizer nada. Era como se dentro dele uma guerra de sentimentos acabasse de explodir. Não sabia mais o que queria, não sabia mais o que fazer. "O tempo de Kagome está terminando" - foi a única coisa que ele conseguiu pensar naquele momento.

...

Kaede havia entrado no cômodo e encontrado uma garota de quinze anos vestida de Sacerdotisa. Podia sentir os poderes espirituais de Kagome desenvolvendo-se cada vez mais. Desde a primeira vez que havia visto a garota até aquele momento poderia dizer que ela havia evoluído maravilhosamente. Era como a última flor de cerejeira a nascer, era a mais bela de todas as outras flores.

As duas subiam lentamente as escadarias. Kagome levava em suas mãos a Jóia de Quatro Almas. Não podia acreditar que enfim havia reparado seu erro, que enfim sua promessa de recuperar todos os fragmentos havia terminado. Agora ela poderia... Mas um pensamento invadiu sua mente "Inuyasha". Agora ela havia percebido, não tinha mais utilidade ficar na era feudal. Inuyasha não iria mais quere-la lá. Uma dor no peito a fez diminuir o ritmo em que caminhava para a porta do templo.

...

Inuyasha estava sentado numa árvore. Havia visto Kagome subir para o templo, mas não quis falar com ela. Seus olhos, porém a seguiram. Ela usava um quimono muito parecido com o de Kikyou, mas depois de tanto tempo, ele não mais as confundia. Kagome tinha um cheiro doce muito agradável e Kikyou cheirava ao barro do qual seu corpo foi formado.

_Inuyasha! - Miroku gritou. Ele, Sango e Shippou estavam sentando num banco embaixo da árvore. Todos estavam felizes e sentia-se bem. Haviam derrotado Naraku, haviam vingado a morte de muitos e tinham enfim, conseguido a liberdade de viver suas vidas como desejavam.

_Miroku, Sango e... Shippou. - Inuyasha desanimou ao ver o pequeno demônio. - Como foram? - o jovem perguntou sem empolgação, mas curioso.

_Enterramos meu irmão. Agora ele poderá descansar em paz. - Sango respondeu olhando para o céu. A lua já surgia no horizonte.

_Inuyasha? - Shippou perguntou - O que aconteceu com a Kagome?

_Bem...

...

No templo, os primeiros raios do luar insidiam nos espelhos colocados nas janelas e iluminavam o ambiente. A madeira do piso estava polida. Havia vasos com flores. Incensos pendurados em todas as dez vigas (cinco de cada lado). Na parede dos fundos a imagem de buda e ao lado dela...

"Kikyou?" - Kagome pensou. Já havia sentiu seu poder naquele lugar, mas pensou que fosse apenas imaginação, mas não era, a sacerdotisa estava lá.

_Kagome. Traga a Jóia. - disse a mulher ainda de costas para as duas Kaede e Kagome.

_Esta na hora. - disse Kaede...

CAPÍTULO 11 – A estranha voltou...

...

_Cara de cachorro! Como você teve coragem. - Não, o faro de Inuyasha não estava errado, nem sua audição o enganava. Kouga estava ali, aquele idiota que achava que era o noivo de Kagome e que junto com outra de sua espécie, como ele tinha coragem de ficar com duas mulheres? Foi quando ele percebeu, Inuyasha viu o erro, ele também era daquele jeito, ele queria duas mulheres, era realmente uma situação constrangedora.

Kouga e Ayame aproximaram-se calmamente. Mas os olhos de Kouga estavam irritados, ele parecia ter escutado a história desde o começo e obviamente estava ofendido com Inuyasha, havia deixado Kagome ficar com Inuyasha e era assim que ele cuidava da humana, era um idiota, um cachorro vagabundo. Pelo tom da voz, Kouga não havia gostado nem um pouco do desfecho da historia de Inuyasha.

_Lobo fedido! - retrucou o meio-demônio encarando o garoto com roupas de pele de lobo, olhos azuis e cabelos negros presos num rabo. Ao lado dele três pessoas, três lobos que ele conhecia fazia um tempo. Uma garota que se vestida com peles mais claras, olhos intensos que se enchiam de sentimentos quando Kouga falava o nome de Kagome, seu cabelo era vermelho com uma flor do lado e as peles, diferente de Kouga que era queimada pelo sol, brancas, suaves e delicadas, a verdadeira princesa dos lobos. Havia ainda mais dois outros demônios, desajeitados e cansados, um pouco atrapalhados e com olhos desconfiados, como se tivessem corrido o dia todo, eram os companheiros inseparáveis de Kouga.

_Kouga! Ayame! - Shippou sorriu. Enfim alguém que não bateria nele! - Oi! - sorriu para os dois.

_Olá Shippou. – disse sem grande interesse no pequeno youkai, e, depois, voltando-se para Inuyasha, numa velocidade que, mesmo sem a jóia era espantosa, segurou Inuyasha pela gola do quimono que ele usava, as garras grudaram com facilidade no tecido e era obvio que Kouga não tinha intenção de soltar Inuyasha. Ele queria mesmo era bater no meio-demônio, descontar toda a raiva que sentia. Por instantes eles se olharam intensamente, pareciam discutir através do olhar, mas logo os olhos âmbar do meio-demônio se desviaram, envergonhados com a verdade que estava acontecendo, ele, por mais que quisesse negar era o culpado de muita coisa, e sempre acabava ferindo os sentimentos de Kagome. Ele estava com vergonha de ter que admitir a verdade para aquele lobo, ele tinha razão em ficar bravo com Inuyasha, mas os sentimentos são sempre tão confusos para ele. - Você a abandonou! Como pode? Eu a deixei com você! Para que você cuidasse dela! Será que não percebe que é o coração dela que está machucado, e você deveria cura-lo, já que foi você que o feriu? - e jogando Inuyasha no chão com força deu as costas para o meio-demônio.

“Kouga...” - Inuyasha não havia reagido a agressão de Kouga, as palavras dele eram certas, Inuyasha havia ferido Kagome de uma maneira que ele mesmo jamais poderia curar e agora tudo começava a fazer mais sentido do que nunca. Ele pensou que ela o tivesse curado de suas dores do passado e realmente ela fez isso, mas como troca ela abriu lentamente uma ferida em seu coração, conhecendo sentimentos cruéis que fizeram com que o seu coração se tornasse triste. Mesmo quando parecia estar alegre. Inuyasha era o culpado!

Ele estava com remorso de ter abandonado Kagome num momento importante. Mas ele tinha um sentimento tão grande por Kikyou, queria tanto falar com ela, a sacerdotisa estava morta, mas Inuyasha muitas vezes desejaria morrer e ir para o inferno só para encontrá-la, como desejava às vezes estar com ela. Tomou uma decisão errada, mas não erraria de novo.

Kagome e Kikyou: não queria perdê-las.

_Ayame, como está? - Sango perguntou quando a garota aproximou-se, ela estava com uma cara abatida, como se aquele situação tivesse acentuado seu desanimo em ficar ao lado de Kouga, mas ela havia escolhido aquele caminho e se manteria nele até o fim.

...

_Venha menina! - Kikyou estendeu a mão para Kagome. A lua estava no seu auge, uma belíssima cena de se formava no céu. Era o momento perfeito para iniciar o ritual de purificação, pois a lua era parte do que uma sacerdotisa era: uma beleza misteriosa que nunca se revelava por completa. Kagome aproximou-se lentamente, desconfiada, ou apenas ressentida com a sacerdotisa que tinha o verdadeiro coração de Inuyasha. Não tinha medo de Kikyou, isso ela jamais teve e teria, mas era como se sentisse angustiada todas as vezes que se aproximava da mulher, ela possuía parte de sua alma e por isso Kagome podia sentir tudo que ela sentia, como era difícil, a alma de Kikyou estava sempre envolta numa tristeza que fazia Kagome sentir pena ou mesmo desanimo perto dela.

Era uma sensação dolorosa e ao mesmo tempo intensa. Trazendo a garota lembranças fortes de Inuyasha e de tudo que ela havia vivido até aquele momento, havia lutado muito, crescido, aprendido que a vida não pode ser feita somente de bons momentos e que os maus momentos são parte de uma vida completa e cheia de sentimentos.

_Sim. - ela concordou. Já havia unido forças com Kikyou para fundir pedaços da jóia e para purificá-la uma vez há algum tempo, não teria medo de fazer isso novamente, era preciso. Aquela experiência não seria diferente. Pelo menos era o que Kagome achava. Mal sabia ela que tudo estava diferente, que tudo ali era diferente.

Os raios lunares incidiram sobre o altar de Buda e iluminaram todo o ambiente. Os olhos de Buda pareciam olhar para as duas com reprovação ou com compaixão, Kagome não conseguia dizer o que realmente sentia quando se viu observada por aquela estatua imensa. Kikyou podia sentir todo o seu poder percorrendo seu corpo de barro, nunca pensou que sentiria o calor novamente, mas uma emoção começou a tomar conta do seu corpo. Seu coração batia, ela podia sentir o pulso. Era como se seu corpo voltasse a ter vida humana, mas isso era impossível. Kagome estava fraca, seus sentidos faltavam-lhe, mas ela tinha que cumprir seu dever. Era preciso purificar a jóia.

As mãos de ambas estavam unidas. A jóia, apertada entre ambas, transmitia uma forte radiação de energia negativa. Alguns espelhos quebraram-se, e então...

...

Um brilho invadiu os olhos de todos os que estavam do lado de fora do templo. Inuyasha podia sentir todo o poder das sacerdotisas explodirem para todos os lados, seus sentidos incidiam sobre o templo. Não havia mais nenhuma áurea negra no templo, apenas uma forte luz branca era emitida.

"Kagome!" – pensou, pois era estranho ver Kikyou, seus sentimentos pareciam tão resolvidos, tão decididos. Mas naquele momento podia sentir uma maré de sentimentos indo e voltando dentro de seu peito e ele não sabia mais o que fazer.
Então a luz dissipou-se. Da escada, descia uma mulher coberta pela luz que desaparecia. Seus cabelos negros, olhos cheios de vida e um sorriso nos lábios. Kagome estava com a Jóia nas mãos. Ela estava brilhando mais intensamente, não estava mais negra, havia retomado sua cor natural.

Finalmente tudo estava acabado.

A jóia havia sido recuperada, Naraku havia sido exterminado e tudo voltaria ao normal.
_Kagome! - Kouga e Ayame sorriram. A jovem demoníaca loba não mais sentia ciúmes de Kagome. Kouga, embora sentisse uma grande amizade pela jovem, havia descoberto nela o verdadeiro amor. Sentia-se tão segura perto dele que não era capaz de odiar Kagome por ela despertar tanta amizade em seu companheiro.

_Shippou, Miroku, Sango, Kouga, Ayame e... Inuyasha - ela sussurrou - Eu cumpri a minha promessa. - e fechando os olhos deixou a energia intensa de a jóia invadir o coração de todos.

No entanto, os olhos de Inuyasha estavam voltados para o templo. Kikyou, ela não estava mais lá, eu cheiro havia sumido. Kikyou havia partido assim como havia chego. Mas não era o momento de pensar na sacerdotisa, um dia já havia se passado.

“Restam apenas quatro dias!" - o meio-demônio voltou sua atenção para Kagome, que conversava com todos do grupo. “Ruki, eu já tomei a minha decisão!" - pensou olhando para o alto, buscando algo no infinito do céu.

_Estou aqui. - uma voz sussurrou em seu ouvido. Ruki estava encima da árvore. Olhava para Inuyasha com um olhar frio e cauteloso. – Eu já sabia...

...

CAPÍTULO 12 – As verdades sobre a luz do luar

...

Kikyou estava na frente da sagrada arvore onde ela, há cinqüenta anos, havia prendido Inuyasha com tanta raiva e rancor, pensando que estava selando o seu destino ao dele, que ambos teriam o mesmo fim. Podia sentir ainda seu cheiro ali, toda a energia de Inuyasha parecia fluir naquela arvore, como se parte dele estivesse com ela, mas ele não estava mais preso ao destino que Kikyou desejo para ele, estava com uma garota! Seus olhos brilhavam com tanta intensidade e gotas frias de lágrimas brotavam de seus olhos cortando o rosto branco e sério! Não acreditava que poderia chorar, não com aquele corpo, sem vida feita de barro e de almas roubadas de outros, não por Inuyasha, nunca por Inuyasha. Por instantes achou que seus sentimentos fossem falsos, talvez ela nunca tivesse amado ninguém, que a vingança fosse mais forte, mas estava errada, ainda havia um coração dentro do seu corpo, ainda havia sentimento em suas veias, o sangue corria por ela e ela sabia que sentia algo muito intimo por Inuyasha.

“Está chegando a hora!" - pensou sentindo seu corpo cada vez mais fraco. Algo lhe dizia que logo não poderia mais coexistir com aquela jovem de outra era. Além disso, começava a sentir o peso de viver com meia alma. Estava tendo muito desgaste por se quem era e sabia que não deveria estar ali, sua morte estava próxima do fim, novamente.

...

_O que faz aqui? - Inuyasha olhou em direção a voz de Ruki. Ela estava sentada no mesmo tronco que ele, anteriormente estava. Olhava para todos e era observada por todos, como era simples entender o pensamento humano, como era vulgar aquela cena em que podia tocar com suas mãos e garras. Era obvio que estava tentada a ter a jóia ou mesmo de destruir tudo o que Inuyasha fez por aquele grupo patético. Quem sabe não surrasse aquele príncipe dos lobos que mais uma vez estava diante dela. Ou quem sabe desse um fim aquela velha sacerdotisa, mas não havia lógica para tudo aquilo, eram apenas pensamentos de uma youkai que vivia pelo fio da navalha.

Kagome tinha os olhos assustados, reconhecia aquela voz, era a mesma voz do seu sonho da noite passada. Podia sentir o toque dela e o gosto de algo que ela lha dava, como se a realidade a invadisse de modo atordoante. A jovem percebera, não havia sido um sonho, era real. Tudo que ela pensou ser imagens soltas no ar eram verdadeiras, tudo era verdadeiro. “Inuyasha me deixou! Ele foi atrás da Kikyou! Fui atacada por ladrões! Fui envenenada! Inuyasha precisava da minha ajuda! Eu falhei! Ela me salvou! Mas porque desde que Inuyasha a reencontrou ele está assim? Tão diferente comigo? Quem é ela afinal? Quem sou eu para ele? Eu perdi minha utilidade?" - um sentimento de angustia invadiu o coração da jovem. O coração de Kagome sempre foi puro, mas há muito estava sendo contaminada pelo que Inuyasha sentia, pois raiva e ódio ela já havia experimentado contra Kikyou, mas pensou ter se curado de seu próprio mal, mas novamente aquela necessidade de chorar e de ver Kikyou morta lhe invadiu a mente, quantas vezes mais teria que sofrer até poder se purificar do que sentia? Ela atrapalhava a vida de Inuyasha, era apenas um peso que ele levava, sempre foi assim, desde que ela o despertou e o libertou do seu eterno sono. Ela o libertou para não morrer, ele a protegeu para ter poder e ao final, eles não eram mais que úteis um para o outro. Não deveria estar ali, sentia-se atrapalhando a vida de quem mais amava.

_Quem é ela? - Sango perguntou para Inuyasha percebendo que ele conhecia a youkai. Além disso, podia ver os olhares de Miroku para a youkai, uma bela fêmea, assim como o belo rosto de Sesshoumaru, tão impassível quanto ele, mas mais queimado pelo sol.

_Inuyasha, você a conhece? - Miroku encarou os olhos frios de Ruki. Era estranho, sentia um frio percorrer a espinha quando olhava para ela, era a mesma sensação que sentia quando Sesshoumaru estava perto, tinha a mesma intensidade e a mesma aura maligna, mas ainda sim era uma mulher bonita, com algo incomum, uma beleza atordoante.

_Inuyasha? Kagome? Quem é ela? - Shippou subiu nos ombros da jovem e a fez despertar de seus pensamentos, o pequeno estava confuso com a situação, aquele ser lhe dava medo e ao mesmo tempo parecia lhe trazer uma sensação de tristeza, como se algo estivesse terminando, estava perdendo algo que não sabia o que era quando olhava para ela.

_Você consome as almas lentamente não é? – perguntou à velha Kaede sentindo o poder que vinha da espada de Ruki. Sim, ela tinha razão, a espada da youkai devorava almas jovens quando frágeis, assim como a de Shippou.

Kagome segurou o pequeno nos braços e ele se sentiu aquecido por dentro, era bom ter Kagome com ele, pois ela sempre cuidava dele com carinho. A jovem, no entanto, não sabia, ao certo, quem ela era, mas reconhecia sua voz, seus gestos e rosto de uma maneira inconfundível, mas quem ela era, isso não poderia dizer. Era a única coisa que ela poderia dizer para o pequeno, mas preferiu ficar calada.

_O que está acontecendo? - a velha Kaede resmungou. Deparando-se com a figura de Ruki e encarando-na com mais seriedade observou bem seu jeito e a aura maligna que emitia seu corpo de youkai. Não era a primeira vez que sentia tal poder e certamente não se sentia confortável perto dela. Era visível nos olhos da velha o tom de curiosidade e ao mesmo tempo medo que eram refletidos. "É ela!" - pensou sorrindo generosamente e um pouco satisfeita.

_Eu vim aqui para selar o poço quebra-ossos! - respondeu dando um salto, girando no ar com suavidade e caindo perto de Kagome. A youkai podia sentir todo o poder que emanava da Jóia e o cheiro da humana ao seu lado, por instantes teve a vontade de apossar-se da jóia, mas ela não lhe traria mais poderes do que ela já tinha. Tão pura e tão poderosa, ali, no alcance de suas mãos, mas ela nada poderia fazer para possuir a Jóia, não era seu destino tê-la. -...

_Ela é uma amiga. - Inuyasha ao perceber que Ruki diria algo impróprio tomou a frente dela e apresentou-a. Uma mentira que Ruki pareceu não se importar, ela não tinha realmente que responder quem ela era e de onde vinha, que Inuyasha dissesse o que quisesse, era ele o mentiroso ali e não ela.

_Não minta Inuyasha. - a velha Kaede resmungou mais uma vez, dessa vez com mais firmeza e aproximando-se de Ruki avaliou o poder que ela emitia – Ela é uma espécie de guardiã, não é verdade? - e encarou Ruki com olhos de inquisição. Porém, a youkai nada respondeu, apenas manteve os olhos fixos em Inuyasha. Ele sabia o que ela era e isso era o que importava realmente, pois guardiã nunca foi, poderia dizer que ela foi aquela que fazia Inuyasha sofrer deliberadamente e que o manteve vivo, mas nunca quis ser chamada daquela forma, era medíocre e humano demais para uma youkai como ela. - Não adianta esconder a verdade menina. Por longos cinqüenta anos você veio à floresta de Inuyasha e cuidou dele. Eu sempre soube de sua presença. Uma vez por ano você voltava aqui para vê-lo, para saber se ainda estava preso, para saber se ainda precisava de seus serviços. - a velha continuou, parecia querer entender a ligação de Inuyasha e Ruki.

_Calada velha. - e a espada de Ruki apontou para o pescoço da velha com tal rapidez que ninguém foi capaz de impedir seu movimento. Porém, os olhares foram tão intensos que Ruki abaixou a arma. – Você sente, não é? Pode ouvir a voz de outras sacerdotisas gritando não pode? – Ruki sussurrou no ouvido da velha.

_Ruki! – Inuyasha adiantou-se. Todos estavam impressionados com a coragem e a rapidez da youkai. Inuyasha sabia que Ruki não machucaria Kaede, mas assustou-se ao perceber o movimento da youkai. Kagome arregalou os olhos e sentiu um tremor subir por seu corpo, mas manteve-se firme. Shippou, porém, escondeu-se atrás da jovem menina. Miroku e Sango prepararam-se para lutar e Kouga e Ayame permaneciam em silencio, observando os acontecimentos.

_Você é a matadora de sacerdotisas? – a velha espantou-se em ainda estar viva e ter coragem de fazer tal pergunta.

_Odeio sua raça pura e desgraçada, mas não estou aqui para te exterminar, se é o que pensa! – ela sorriu e jogou a velha no chão com força. – Prepare os rituais, sei que você os conhece sua velha, Kagome irá embora pela manhã. - disse voltando seu olhar novamente para Inuyasha, confirmando a sua decisão, ele apenas fez um sinal com a cabeça e permaneceu calado, imóvel com o que sentia naquele momento. – Esta menina não é de nossa era e não merece viver entre nós, além disso, o que sabe uma humana...

_Eu... – Kagome pareceu tentar dizer algo, mas foi inibida por Ruki. O olhar dela era muito mais penetrando do que aparentava, era como se estivesse percorrendo a alma de Kagome.

_Você, minha cara – e uma das unhas de Ruki encostou-se no rosto de Kagome, ela sentiu um pavor tomar conta de seu ser. - É somente mais uma mortal que acredita ser alguém, mas não passa de presa para as minhas garras – e fechou o punho num sinal de força - E se quer saber mais da verdade, creio que seu tempo nesta terra já terminou há muito tempo. – encerrou.

"Desculpe-me Kagome!" – Inuyasha sentiu quando Kagome olhou em sua direção parecendo pedir ajuda ou que ele dissesse alguma coisa, mas ele apenas abaixou a cabeça e se lamentou pelo que havia decidido. Não havia outro caminho a ser tomado naquele momento. Kagome tinha que viver.

_Voltarei assim que o sol surgir no horizonte. - e, guardando a espada na bainha, Ruki desapareceu como a fumaça que sobe lentamente para os céus.

_Bem, acho que é melhor comemorarmos o fim de Naraku! - disse Kouga segurando a mão de Ayame e a arrastando para o outro lado, em direção as casas do vilarejo.

_Sim. O que acham de uma boa refeição? Estou morto de fome e sede - ele empurrou Sango em direção a casa de Kaede.

_Shippou, quer me ajudar, por favor. - Kaede pediu ao pequeno, que em prontidão correu para junto dos amigos. Todos se afastaram lentamente. Porém Kagome e Inuyasha permaneceram ali, parados imóveis, se encarando e encarando a si mesmos numa luta contra o que sentiam e o que tinham que fazer. Não parecia ser fácil estar naquele momento naquele lugar, mas era o que deveria ser. Dentro de seus pensamentos, distantes e ao mesmo tão próximo um do outro. Era como se o tempo tivesse parado e somente o movimento da lua permanecesse. Inuyasha não conseguia olhar para Kagome e Kagome sentia-se triste por dentro.

_Inuyasha... - enfim a voz de Kagome soou.

Não havia mais ninguém ali. Todos estavam na casa de Kaede. Podia-se ouvir a conversa, distante, mas intensa. - Me leva daqui. - pediu com a voz desanimada, como se fosse desmaiar. Mas ao contrario do que parecia, ela estava mais forte do que antes.
Inuyasha nada disse. Apenas pegou Kagome no colo e correu alguns metros, até saírem da aldeia. Sentados, ao lado do rio que corria lentamente. Inuyasha sentiu-se frágil, triste e ao mesmo tempo alegre.

Sentimentos se confundiam e o confundiam.

_Kagome, está na hora de você voltar. - ele disse. A voz não queria sair, mas era preciso, estava na hora de dizer a verdade, estava na hora de ser sincero, pela primeira vez, com Kagome.

_Inuyasha, eu preciso dizer algo antes...

CAPÍTULO 13 – O coração de uma morta e o coração de uma viva

...

Ruki estava sentada num galho da árvore sagrada. Dali ela podia ver Kikyou. A sacerdotisa passava a mão lentamente no local onde Inuyasha ficou preso por cinqüenta anos. A youkai tinha um sorriso nos lábios. Fazia tempo que queria ficar a sós com a sacerdotisa.

_Então seu coração ainda bate. - Ruki resmungou, assustando Kikyou. Era estranho, pois a sacerdotisa não havia sentido a presença maligna da youkai. Na verdade, não a sentia. Era como se Ruki não possuísse aura alguma.

_Quem é você - e agarrando rapidamente o arco e a flecha, Kikyou ameaçou Ruki. Tinha os olhos úmidos de lágrimas e a expressão cheia de ódio. - O que quer?

_Não interessa mulher! - Ruki desceu da árvore. A flecha ainda estava apontada para ela, mas Ruki parecia não se importar. – Acha mesmo que pode me ameaçar com isso? - e colocando o dedo da ponta da seta, encarou os olhos negros de Kikyou. Havia tanto sentimento. Tantos sonhos, dores e angustias, presos dentro daquele corpo. – Precisa sentir o seu coração bater, saber para que ou para quem ele bate. - Ruki sorriu desafiadoramente.
Kikyou não foi capaz de responder, estava confusa com aquele youkai. "O que esta youkai pensa que é? Eu sou Kikyou! Eu..." - mas antes que a sacerdotisa pudesse pensar em algo, a presença de Ruki havia desaparecido.

_Sua youkai imunda! O que pretende com isso? Sei quem você é e o que quer e saiba que... – ela começou, mas um sorriso em Ruki a fez parar de falar.

_Você não me conhece nem um pouco sua mortal insolente. – disse tranqüilamente. – Mas, eu por outro lado, sei quem é você... Conheço sua dor e seus ferimentos e sei que sua vida está apenas por um fino fio de areia. – continuou com um tom suave e implacável. – Sabe, acreditei realmente que você amasse Inuyasha! Mas olhando agora...

_Eu amo o Inuaysha! – gritou a sacerdotisa caindo de joelhos no chão e chorando, chorando escondido de si e de seus sentimentos. Não deveria ter dito aquilo.

_Então o leve para o inferno! – resmungou Ruki.

O vento bateu no rosto da jovem e ela já estava longe de Kikyou, a noite ainda seria longa.

...

A pequena Rin sorria satisfeita para Jaken.

Sesshoumaru havia voltado depois de dois dias e estavam todos sentados. Ela e Jaken discutiam. Rin estava com fome e o youkai verde não queria pegar algumas frutas que estavam no topo da árvore.

Sesshoumaru apenas observava calado e pensativo. Não tinha interesse algum na conversa dos dois, mas podia notar que Rin precisava de comida.
Então, levantando-se e lançando pequenas chicotadas nas frutas, derrubou-as da árvore. Rin agradeceu e correu comê-las.

A noite parecia longa. A fogueira brilhava e estralava. Já era tarde. Rin, cansada, dormia envolta pelo dragão de duas cabeças. Jaken estava entretido com seu bastão, limpando-o lentamente. Foi quando uma brisa bateu, levando um cheiro forte para dentro do corpo de Sesshoumaru.

Os olhos do demônio arregalaram-se, mas não estava assustado. Seu coração estava sereno. Sua respiração, porém, quase parou. "Ruki!" - pensou levantando-se rapidamente.

_Jaken, cuide de Rin. – e encarando o servo. Depois, sumindo, assim como Ruki costumeiramente fazia, Sesshoumaru correu em direção ao cheiro.

...

_Inuyasha. - Kagome olhou para o céu. A noite estava escura. A lua pouco iluminava e as estrelas eram ofuscadas pela sua beleza. A respiração de Inuyasha estava tranqüila e Kagome sentia-se segura ali, com ele. O vento morno batia em seus cabelos e a faziam lembrar tudo.

_Kagome, eu...

_Desculpa Inuyasha - foi a única coisa que ela conseguiu dizer. "Talvez se eu não tivesse vindo para este mundo, nada disso teria acontecido". Pensou. Então uma imagem surgiu em sua mente, um jovem, preso por uma flecha numa árvore. Seus cabelos brancos, seu rosto sereno de um sono tranqüilo. Kagome jamais teria conhecido Inuyasha, jamais teria conhecido o amor por um meio-demônio.

Se Kagome não tivesse sido tragada para dentro do poço Inuyasha não teria voltado a vida, Kikyou não teria renascido do barro. A jóia estaria segura na era atual. Miroku não teria conhecido Sango e talvez ela e sua família ainda estivessem juntos. Jamais o monte Hakurei teria desmoronado e o Exército dos Sete teria sido revivido. Não conheceria antepassados de seus amigos e não viveria aventuras mortais. Talvez sua vida de estudante tivesse sido como a de suas amigas, talvez ela ficasse com Hojo. Mas naquele momento, não havia sentimento de remorso, de tristeza por ter ido parar naquela Era Feudal. Se ela não tivesse voltado, nada seria como era.

_Não seja idiota! - Inuyasha segurou as mãos de Kagome. Ele tremia. Estranhamente seu olhar estava sereno. Não tinha sofrimento no rosto e nem medo nos lábios. Sua voz estava confiante. - Sem você, eu não poderia voltar à vida. - ele resmungou. - Você curou o meu coração. - Ele balbuciou quase que num suspiro.

"Eu curei seu coração?" - Kagome arregalou os olhos, assustada pela declaração, confusa pela emoção, triste pela mentira que acabava de ouvir. "Eu não curei seu coração Inuyasha! Ele se curou sozinho!"

_Você quer que eu vá embora, não é Inuyasha? - ela tentou ser forte talvez fria. Não queria que Inuyasha percebesse a dor que sentia dentro do seu peito. – Eu pensei que depois de tanto tempo, talvez eu fosse mais do que uma segunda opção para você, eu... - ela ficou envergonhada, seu rosto ficou vermelho e ela não podia ser comparada com Kikyou, a sacerdotisa era uma mulher e ela apenas uma garota. – Eu sei que você ainda ama a Kikyou. - ela deixou o rosto cair, não podia mais olhar para o céu e nem encarar Inuyasha.

_Kagome, eu... - ele tentou dizer algo, mas não foi capaz. A única coisa que conseguiu foi abraçá-la com força. Queria sentir o calor do corpo da jovem, ouvir seu coração batendo e seu cheiro de flores silvestres. "Você tem um cheiro tão bom!" - pensou quando sentiu o abraço ser retribuído.

Kagome envolveu Inuyasha em seus braços e deixou o choro escapar. Nunca poderia imaginar que este era o fim de toda uma longa jornada além do tempo. Ela queria voltar, olhar para trás. Mesmo que quisesse de tudo esquecer, haveria sempre Inuyasha para se lembrar. “Não quero que você sofra Kagome!" - Inuyasha queria tanto dizer isso. Queria tanto ser sincero.

_Eu nunca mais vou poder ver você Inuyasha. - aquelas palavras foram como um golpe no estomago de Inuyasha. Ele já havia suportado tantas dores, já havia sofrido tantos golpes, mas aquele era o pior de todos. A separação estava doendo o peito, o corpo, a mente. Sua alma estava sendo ferida novamente, mas desta vez era algo mais intenso.

Um sentimento estava florindo em meio ao sofrimento...

_Kagome, eu...

...

Ruki estava na campina aberta. A noite parecia engoli-la com seu negro manto. Somente seu rosto, queimado pelo sol era iluminado pela majestosa lua. Ela podia sentir a presença de Sesshoumaru, ele aproximava-se rapidamente, logo estaria ali. Mas naquele momento a única coisa que Ruki queria era a serenidade da brisa, a luz da lua e o silencio da vida que percorria suas veias de youkai.

Sesshoumaru surgiu do outro lado da campina. Ruki segurou a bainha e olhou com intensidade para Sesshoumaru. Seus olhos frios e violentos poderiam destruir aquele lugar num instante. Seus poderes eram energias que se debatiam, que se odiavam.

_Faz muito tempo. - Sesshoumaru resmungou. Ele segurava a bainha de sua espada com tanta força que podia sentir o calor do atrito da sua mão com o couro da espada.

_Não foi o suficiente. - Ruki exclamou preparando-se para um ataque.

_Então venha! - Sesshoumaru preparou-se para receber o ataque de Ruki.

“Já faz muitos anos que não luto com um youkai tão poderoso como ele, mas Sesshoumaru sempre foi meu maior inimigo!" - Riku correu em direção a Sesshoumaru.

A campina seria pequena para a luta de dois demônios!

...

_Me desculpe Inuyasha...

CAPÍTULO 14 – Lutas noturnas

...

As espadas se encontraram com tanta força, que todo o verde da campina tornou-se apenas cinzas, queimados pela quantidade de energia que os dois lançavam para fora do corpo, era o poder da maldade de ressoava pela mata, a necessidade de destruição que se materializava na desgraça. Ruki e Sesshoumaru, os youkais mais fortes daquele local, os piores seres que poderiam existir. Os olhares tinham uma profusão de ódio e desejo que lhes davam a ira suficiente para duelarem naquele momento.

O céu noturno presenciava a raiva de dois seres que se atraiam de forma intensa, enquanto se repelem de maneira brutal. Duas feras presas em corpos fortes, mas incompreensíveis.

Os sorrisos sarcásticos eram mútuos. Lutavam com fúria. Ruki despejava em Sesshoumaru golpes cada vez maiores com uma força cada vez mais intensa, mas este respondia com agilidade e poder. Não havia desequilibro, os poderes se igualavam.
Um corte no rosto de Sesshoumaru, um ferimento no braço de Ruki. Sangravam e, ainda assim, não deixava de querer lutar. E novamente o poder encontrou-se concentrado, quando as lâminas se tocaram. Os rostos ficaram tão próximos que podiam sentir-se, os olhos refletiam a lua e as mãos sangravam, estava difícil continuar segurando a lâmina. Então, a separação dos corpos.
Sesshoumaru recebera mais um golpe de raspão no rosto e Ruki sangrava no rosto também.

_Chega? - Ruki disse percebendo o cansaço de Sesshoumaru. Mas não adiantava querem se enganar, ela também estava exausta. Quanto mais lutavam, mais seus poderes eram drenados para fora.

_Não importa. Ainda nos veremos. - ele respondeu sumindo. "Além disso, Ruki, você precisa terminar o que começou há muitos anos com Inuyasha!" - e partiu pela escuridão, sumindo dentro da escura floresta.

...

Kagome não suportava mais aquele silencio de Inuyasha. Ela queria dizer alguma coisa, mas não era capaz. Não pelo medo que sentia, mas porque sabia que nada adiantaria. Ele ainda gostava de Kikyou e nada que ela disse poderia mudar este fato. Quanto a Inuyasha, um sentimento que ele conhecia, mas que pensou ter desaparecido do seu peito, parecia germinar novamente no jardim dos desejos de seu coração. Porém, não era fácil entender e nem encarar aquela emoção novamente. Já havia se ferido por aquela emoção, já havia perdido muito por amor.

A noite estava indo embora serenamente, enquanto os dois permaneciam sentados, aconchegados um no outro, mas no silencio da alvorada. O calor de Inuyasha era reconfortante. Kagome sentia-se angustiada, mas estar com ele naquele momento era mais que suficiente para estar feliz. Porém, logo se separariam, e para sempre. O cheiro da jovem, seu calor e seus cabelos negros traziam paz ao meio-demônio. Era como se a presença de Kagome fosse a razão do coração de Inuyasha bater, mas não era só por isso que ele estava ali.

_Está amanhecendo. - Inuyasha sussurrou no ouvido da jovem, como que a despertando de seus pensamentos.

_Já está quase na hora. - ela segurou a mão dele, estava na hora de dizer. - Inuyasha, eu disse uma vez que fiquei com você porque quis. Achei que o tempo determinaria isso, que comigo ao seu lado você poderia ser feliz, mas vejo que não. Mesmo assim, eu... - a garganta estava seca. Ela tremeu ligeiramente.

Inuyasha tinha os olhos serenos, mas atentos a cada movimento de lábios de Kagome. Era como se ele esperasse algo dela, algo que não sabia se poderia retribuir.

_Eu... Eu... - ela gaguejou - Eu te amo. - disse levantando-se rápido e dando as costas para Inuyasha. - Ouviu? Eu te amo.. – e correu em direção à aldeia. Não acreditava que havia dito aquilo. Não acreditava que sentia aquilo por Inuyasha, não queria mais ficar ali.

"Kagome" - Inuyasha permaneceu parado, assustado com o que havia ouvido e com medo de dizer algo que magoasse Kagome. Mas, naquele momento seu coração estava tão confuso. Uma profusão de sentimentos entrava e saia com tanta intensidade que ele não era mais capaz de dizer se o que ele sentia por Kikyou era o que sentia por Kagome e vice-versa. Ele só conseguiu ficar ali, parado, imóvel. Olhando para o sol que nascia no horizonte. "Faltam três dias e ela vai partir hoje!" - pensou lamentando-se por não ter feito nada quando Kagome se levantou. "Mas ela não pode ficar, não quero que ela morra. Eu, daria a minha vida para que ela ficasse a salva!" - e o sol iluminou a aldeia por completo.

...

Ruki estava ao lado do poço. As roupas brancas que usava estavam machadas de sangue. Seu rosto tinha um corte e mesmo assim ela parecia não sentir dor alguma. Além disso, ninguém, a não ser Inuyasha sabia o que havia acontecido, não por ter perguntado, mas porque ele já havia visto muitas vezes aqueles ferimentos para saber o que aconteceu na noite passada.
Kagome estava serena, seu rosto mantinha uma expressão alegre, como ela sempre fora. Não podia deixar Inuyasha pensar que ela estava voltando triste para seu mundo e nem que ele a havia magoado, não queria fazer o seu verdadeiro amor sofrer por ela, não valia a pena.

Todos estavam lá.

Shippou nos ombros de Miroku. Sango e Kirara. Kouga e Ayame. Kaede. Ruki e, principalmente, Inuyasha, que ela pensou que não estaria ali. Nas mãos ela levava a Jóia de Quatro almas, purificada e com uma força intensa mais forte do que antes. Era hora de dizer adeus.

_Kaede, obrigada pelos ensinamentos. Aprendi com você coisas da vida e na morte e não vou me esquecer de tudo que você me mostrou. - Kagome abraçou a velha. Kaede estava velha e cansada, mas estava feliz de ter encontrado a reencarnação de sua irmã e mais ainda, descobrir que Kagome é uma menina poderosa e maravilhosa. Que jamais poderia ser comparada a sua irmã, porque eram muito diferentes. - Cuida do Shippou para mim? - perguntou nos ouvidos dela. No que Kaede sem dizer nada consentiu com a cabeça.

_Miroku, tenho algo para você. - e ela tirou do bolso um colar simples de pérolas. E abraçando-o disse em seus ouvidos. - É tradição na minha era dar colar de pérolas para a mulher que amamos quando a pedimos em casamento. – e sorrindo para o jovem pegou Shippou no colo.

_Obrigado Kagome. - Miroku agradeceu lançando um olhar discreto para Sango.

_Não vá Kagome! - ele pediu. Não queria, não podia deixar que ela fosse. Se Inuyasha não era capaz de impedi-la, ele seria. Não poderia deixar que nada a tirasse dele, de Shippou. Mas só pode sentir o abraço apertado de Kagome, algumas lágrimas escorriam de seus olhos. Sentiria falta daquela mulher e ela do pequeno.

_Fique com Kaede, ela vai cuidar bem de você. - disse beijando a testa de Shippou.

_Kouga e Ayame, eu... - e antes de dizer qualquer coisa os dois a abraçaram tão forte que ela quase perdeu a respiração. - Obrigada por tudo. Pelo carinho e pelo ciúme. Obrigada. - agradeceu sentindo um soluço vir de Ayame.

_Sango, eu sinto muito não poder usar a jóia no seu irmão, eu prometi, mas... - Sango deixou lágrimas saírem e as duas se viam sorrindo, como se aquilo não mais importasse. Estavam ali, estavam juntas, estavam vivas.

_Kagome, obrigada por tudo. Não vou te esquecer jamais. - ela fechou os olhos e secou as lágrimas. - Agradeço em nome de todos os exterminadores de youkais e pela minha aldeia. - disse segurando Kirara com força. Kagome nada disse, apenas consentiu com a cabeça.
Depois de dizer adeus, dirigiu-se para Ruki, ela estava na frente do poço quebra-ossos. Olhou para o ferimento do rosto da jovem e depois para seus olhos. Estavam tão frios como o inverno, não estava emocionada e nem parecia sentir dor alguma.

_Kagome... - Inuyasha percebeu que Kagome iria embora sem dizer adeus para ele. - Eu... - todos olharam para Inuyasha. Nenhum deles poderia impedir que Kagome fosse embora, somente Inuyasha tinha tal poder. Porém, ele nada disse.

Kagome aproximou-se dele...

CAPÍTULO 15 - Sob a lua...

...

Os olhares tinham a intensidade da noite anterior, mas os pensamentos não eram os mesmos, os desejos não poderiam se realizar, as vidas não iam mais se cruzar. Tudo parecia tão desesperadamente triste. Todos que estavam ali esperavam uma palavra de Inuyasha, talvez uma frase, algo que impedisse Kagome de ir embora. Porém, somente Inuyasha e Ruki sabiam que era preciso deixar a garota voltar para sua era, era preciso fazer com que a história tomasse o rumo.

Kagome tinha apenas três dias de vida. Vida que existia graças a um sentimento escondido de Inuyasha, uma emoção que a mantinha viva, que fazia seu sangue passar pelas veias e a alma continuar presa no corpo. Somente Inuyasha poderia impedir que Kagome fosse embora de sua vida, mas se ela não fosse agora, iria dentro de três dias, e desta vez em definitivo.

Kagome aproximou-se de Inuyasha. Olhava em seus olhos, encarava sua expressão cansada de uma noite não dormida. Podia sentir seu cheiro, seu calor e sua voz muda. O silencio, naquele momento, era mortalmente sufocante.

_Inuyasha. - Kagome estendeu uma das mãos. A Jóia de Quatro Almas, a responsável por tantas vidas mudadas, por destinos alterados, por eras passadas. Kagome tinha na mão seu amor, sua devoção e sua dedicação. Os pedaços dos seus sonhos haviam sido achados, unidos e formados, porém, não havia um mundo novo para o amor que ela sentia por Inuyasha, havia apenas a mesma vida, só que mais completa. - Ela pertence a você agora. - Inuyasha estendeu a mão.

Por um instante um sorriso maligno brotou nos lábios de Ruki, era como se ela quase pudesse sentir, em suas mãos, o poder da Jóia. Mas sabia que jamais poderia tocar em tal objeto. Inuyasha, porém, tinha os olhos confusos, a mente novamente mergulhou em confusão.

Ele nada dizia. Ainda estava com um nó na garganta, como se um choro quisesse brotar.

_Kagome! - enfim ele disse. As mãos fecharam-se fortes sobre a jóia e ele a olhou com um ar de vitória e derrota. Por anos queria ser completo, ter poderes de um youkai completo e a sua chance de ser poderoso estava em suas mãos. No entanto, a que custo ele teria estes poderes, perderia alguém que não queria perder. Não tinha mais o desejo de ser youkai, só pensava em não deixar nada acontecer com Kagome. - Eu...

_Não se preocupe Inuyasha, sei que posso confiar a jóia a você. - e dando as costas para os outros, sorriu para todos que os olhavam e caminhou novamente para o poço.
Quando suas mãos tocaram na borda do poço quebra-ossos, uma mão, um calor que ela conhecia a deteve. Todos respiraram fundo, prendendo por segundos a respiração. Inuyasha...

Inuyasha virou Kagome para ele, estavam muito perto. Na verdade, a proximidade de seus rostos fazia com que eles sentissem um a respiração do outro, estavam nervosos. Kagome nunca imaginou que poderia novamente ficar tão perto de Inuyasha sem que ele a repelisse.
Os olhos fecharam-se ternamente e os lábios aproximaram-se delicadamente, como se o meio-demônio fosse beijar uma rosa com ternura. Kagome estremeceu e Inuyasha a beijou com tanto carinho e devoção. Tudo parecia ter parado naquele momento. O sol e a lua não mais existiam, não havia mais passado, presente e futuro. Tudo era a mesma coisa e eles podiam se unir através daquele doce carinho, daquele beijo tão esperado por seus corpos.

_Adeus Inuyasha. - e virando-se rapidamente para o poço, pulou, deixando o jovem apenas a olhar. Ainda embriagado pelo cheiro e pelo beijo. A Jóia em suas mãos e o sabor de um amor perdido em seus lábios.

Shippou e Kaede pareciam assustados com o que haviam visto, parecia quase inacreditável. Miroku e Sango sorriram um para o outro, como se esperassem aquilo há muito tempo. Já Kouga, deixou uma pontinha de ciúme transparecer pelos olhos, mas Ayame não percebeu, estava muito feliz por Kagome para notar a expressão do youkai lobo.

_Saia dai Inuyasha. - Ruki resmungou aproximando-se do meio-demônio. Inuyasha parecia uma estátua, uma lembrança do que ela já havia sido. - Está na hora de lacrar o poço quebra-ossos! - e desembainhando a espada, preparou-se para o ritual.

A espada brilhava e Inuyasha despertou com o poder que vinha da arma. Era algo muito intenso, um poder que só parecia ser superado pela Tetsussaiga e pela Tenseiga. Então, um líquido vermelho começou a escorrer pela lâmina e derramar dentro do poço, era o sangue dos youkais que ela havia matado. Junto, havia também o poder de sacerdotisas e sacerdotes, mortos pela arma. O poder seria suficiente para fechar o poço para a eternidade.

_Aquele que atravessa as eras, não atravessará mais. Aquele que sonhava com outros tempos, não mais sonhará. Tudo que é passado, no passado ficará. Tudo que é futuro, um dia surgirá! - e, então, uma luz forte e cegando a todos, explodiu para fora do poço, subindo para o céu e desaparecendo de repente.

Tudo havia terminado. Inuyasha estava com a Jóia. O poço havia sido lacrado. Aqueles que haviam conhecido Kagome não mais a esqueceria, mas nada podiam fazer. Era hora de recomeçar ou começar a vida. Alguns cresceriam, outros casariam, uns ainda brigariam, mas a vida prosseguiria.

...

Era um entardecer sereno. O sol se punha lentamente no horizonte, num alaranjado belo e cheio de ternura. Inuyasha estava com seus pensamentos, com suas lembranças, com seus erros e acertos, todos misturados num silencio. Ali, novamente na árvore sagrada, novamente onde tudo havia começado, ele percebia o quanto havia mudado, o quanto havia crescido e se tornado algo que nem mesmo ele saberia dizer o que era.

_Você se tornou um homem. - Ruki respondeu a quietude do ambiente. Sim, ela estava lá, sempre esteve ao lado de seu protegido. Mesmo nas horas difíceis. - Você sabe que ela está te esperando, não é verdade?

A floresta possuía cheiros e cores tão vivas, mas aquele cheiro não era vivo, era um cheiro que o enchia de lembranças, era um cheiro de barro. Depois de sentir Kagome como parte dele, Inuyasha não mais sabia o que deveria fazer. Na verdade, ele não sabia mais como agir já fazia algum tempo, mas havia ficado mais perdido desde aquela manhã cheia de tristezas e carinhos. Ele não havia dito a Kagome o que sentia, não havia impedido ela de ir embora, não havia contado a verdade de mandá-la embora. A verdade é que ele não era capaz de encarar seus sentimentos e medos, não porque ela medroso, mas porque lhe faltava algo, que ele não sabia o que era.

_Sim, preciso encontrar Kikyou. - ele olhou para baixo. Ruki estava sentada na raiz, olhava para a espada. - O que foi? - perguntou desinteressado.

_Vou ter que matar mais youkais e sacerdotes para que ela volte a ter o poder de antes. - resmungou.

_Estou indo então. - e colocando a Jóia no bolso, partiu em direção ao tempo da aldeia. Podia sentir o cheiro e Kikyou, ela o aguardava lá dentro.

"Inuyasha, você sabe que ela também está morrendo. Talvez por isso seu olhar esteja mais triste que o de costume" - Ruki levantou-se para guardar a espada no flanco. "Mas eu sei um modo de você voltar a sorrir, sei como fazer o futuro e o passado misturarem-se, mas você precisa querer, pois sozinha não posso fazer nada." - ela colocou a mão no braço ferido. O machucado já estava quase cicatrizado, mas a dor insistia em permanecer.

...

_Kikyou... - Inuyasha entrou no Templo, podia ver a pálida figura de Kikyou no fundo do templo. Ela estava sentada, olhando para a figura de buda, parecia procurar paz dentro do seu próprio corpo.

_Está na hora Inuyasha... - ela resmungou enquanto ele aproximava-se.

...

CAPÍTULO 16 – A morte e a vida

...

O cheiro suave de incenso queimado entrou pelo nariz de Inuyasha e o atordoou por instantes. Ele podia apenas ouvir o cantar dos pássaros, que se recolhiam aos seus ninhos. A noite chegava, com seu manto escuro. Os olhos de Inuyasha estavam presos a uma única visão. No templo, dois seres encaravam-se intensamente.

Havia sido um dia difícil para Inuyasha. Perder Kagome, sem ao menos lhe dizer por que, a beijar e sentir seus sentimentos darem voltas em seu estômago, numa ânsia constrangedora e ao final saber que ainda havia mais para vivenciar naquele dia interminável.
Kikyou não tinha brilho algum no olhar, estava séria, como costumeiramente. Seus lábios, cerrados, observavam Inuyasha. A garganta estava seca, não havia palavras e nem pensamentos em seu corpo feito de barro, ela queria apenas a paz do ambiente. Porém, sabia, em seu coração, que seria preciso muito para poder respirar profundamente e sentir cada parte do seu corpo relaxada e tranqüila.

_Inuyasha, está na hora. - ela levantou-se e esperou que o meio-demônio viesse a ela. Não era preciso conhecer Inuyasha para saber que sua expressão ficou séria. Não era capaz de sorrir quando Kikyou estava com ele.

_Kikyou, por que você me chama? Por que ainda sinto o seu cheiro? Por que ainda estou preso a você? - ele perguntou. Sua voz estava num tom grave e decidido. Era a primeira vez que ele questionava seus sentimentos em relação a Kikyou. Sempre amou aquela mulher, aquele fato nunca mudaria, mas havia algo novo em seu coração, um sentimento diferente que o invadia lentamente após o beijo de Kagome.

_Temos uma sina a cumprir Inuyasha. - Inuyasha parou enfrente a Kikyou. Seus corpos quase podiam se tocar, mas não se tocaram. Seus lábios quase se beijavam, mas permaneciam frios. Seus olhos, porém, ardiam em brasas intensas.

_O que quer dizer? - ele não entendia, não era capaz de entender. Kikyou, no entanto, deixou um sorriso sarcástico abrir em seus lábios. Era estranho, Inuyasha continuava ingênuo, não havia mudado muito. Ela, porém, havia mudado demais. – Você sabe que eu sempre te amei não sabe, Inuyasha? Pela primeira vez tenho coragem de admitir algo tão intimo, mas não me sinto feliz em dizer isso!

_Kikyou...

_A Jóia que você carrega no bolso é a causa e o efeito da minha existência continuar a habitar o mundo dos vivos. Eu tinha o dever de purificar a jóia e acabar a maldição que todas as sacerdotisas que por ela morreram, por ela lutaram, sofreram. – resmungou tristonha e sóbria do que dizia. – Porém, você surgiu. Por que você surgiu Inuyasha? – ela questionou. – Não queria mais apenas manter esta pequena fonte de poder pura, eu queria dá-la a você. - Inuyasha colocou a mão no bolso. A jóia estava em suas mãos. Kikyou queria dar ela para Inuyasha e Kagome a deu. Ele começava a compreender.

_Kikyou, eu não entendo. - resmungou dando um passo para trás. – Por que você e eu não ficamos juntos? Por que fomos traídos? Se realmente você me amava não teria sido enganada! – ele tentou dizer algo inútil, que ambos já sabiam.

_No momento em que me apaixonei Inuyasha, eu fiquei cega! E aprendi com este erro! – ela disse. – Minha alma não é mais minha, ela é minha e daquela menina. Porém, ambas estamos morrendo, porque somos incompletas, somos apenas uma parte uma da outra. Nunca gostei de Kagome, mas nunca a odiei. - Kikyou deu as costas para Inuyasha. - Ela é a minha parte boa, meu eu verdadeiro que reencarnou numa linda jovem. E eu sou a parte forte, mas amarga da minha época de sacerdotisa. - Kikyou podia sentir seus sentimentos querendo aflorar pelos olhos. - Somos metades incompatíveis.

_Eu sou metade homem e metade demônio e mesmo assim me sinto inteiro. Não é possível você se sentir...

_Eu não sinto - ela gritou, era a primeira vez que Kikyou erguia a voz para Inuyasha. - Sou feita de barro, consumo almas de pessoas mortas, vivo uma sobrevida. Não sou feliz Inuyasha. Não pense que por ter revivido sou grata. Isso eu jamais serei. Preferia estar morta e sofrendo no inferno a ter que viver todos os dias lutando para continuar viva. Um dia eu tenho que morrer, todos devem morrer! - Inuyasha colocou a mão no ombro dela. Podia sentir toda a dor que ela sentia, sentir o frio do seu corpo feito de barro. - Eu estou pronta para deixar este mundo, já há muito eu já estava, mas só agora eu posso deixar de existir para sempre. Não há mais assuntos pendentes. A jóia está com você e para mim era a única coisa que importava. - Kikyou colocou a mão por cima das garras de Inuyasha. Ele tinha o corpo quente.

_O que pensa em fazer? - ele a abraçou por trás. – Eu não sei o que vou fazer, eu estou sozinho agora! Sozinho! – ele repetiu. – Kikyou...

_Eu experimentei o ódio e a vingança com você Inuyasha. Primeiro por você e depois por Naraku. Então, senti o ciúme, por Kagome e seu corpo jovem, tinha inveja dos seus olhos por ela e do seu bater de coração quando a via... Tive ira de saber que um dia este dia chegaria e ao mesmo tempo provei da calma de poder finalmente descansar o sono eterno. Conheci a inveja do calor dela e por fim, encontrei a paz com o fim das lutas e da purificação da jóia de quatro almas. Não há mais nada que me prenda aqui. - ela agradeceu ao carinho do meio-demônio.

_Eu! Eu quero te prender aqui! - ele respondeu. - Eu não te prendo aqui? - sussurrou em seu ouvido, fazendo a sacerdotisa estremecer.

_Não. Este corpo não poderia ser feliz, mesmo que você o esquentasse nas noites frias. – ela sorriu. – A verdade é que eu não quero ir, porém, este corpo feito de barro está fraco e não posso mais consumir as almas de outros seres. Mas eu não quero ir.

_O que vai fazer Kikyou? Eu...

_Vou completar a sua alma. - ela virou-se para ele.

Completar a alma de Inuyasha? Como isso seria possível. Mas havia um jeito, o sacrifício. Deveria ser feito num templo, sob o luar, na primeira lua nova do mês. Era aquele dia. Logo a lua surgiria e Inuyasha voltaria a ser humano. Kikyou daria a sua alma para ele em sinal de seu amor, em sinal de sua devoção.

Mas Kikyou não tinha tempo de explicar a Inuyasha o que faria. Na verdade, a lua já surgia no horizonte e Inuyasha podia sentir seu corpo mais fraco. Sua visão estava um pouco confusa e podia sentir seu olfato e audição diminuindo gradativamente. Os cabelos iam perdendo gradativamente a cor e ele via suas garras encurtando. Um humano surgia na frente de Kikyou.

_Gosto de você humano. Tem um cheiro agradável! – ela sorriu.

_Kagome gosta de mim como sou. – ele resmungou um pouco confuso e sem saber porque dizia aquilo.

_Por que ela o enxerga como você realmente é, um ser que precisa ser amado e que pode amar! – ela respondeu.

Os cabelos e os olhos eram negros. As mãos humanas e os pés descalços não possuíam garras e as orelhas eram tão normais quanto às dela. Inuyasha estava tão inofensivo como ela.

_Inuyasha, você nunca vai me esquecer. - ela separou-se dele e encarou seus olhos negros. Por baixo da roupa, uma pequena adaga, escondida, pronta para ser usada. - Eu jamais morrerei, jamais perderei meus poderes, jamais deixarem de viver se você lembrar, se você me permitir morar em seu coração, completando-o, tornando-o mais forte. - ela agarrou a adaga e preparou-se para o golpe mortal. Não teria medo da morte, já estava morta, mas sentia um frio temendo, o medo de não ser capaz de realizar o ritual.

_Kikyou o que você... - mas ela feriu Inuyasha no mesmo lugar em que Riku havia o havia ferido. O sangue novamente escorria, espalhando pelo assoalho. Inuyasha permaneceu parado, imóvel. Aquele ritual, ele conhecia. Riku havia feito com Kagome, para que ela sobrevivesse cinco dias através de seus sentimentos, mas como Kikyou seria capaz de...

_Preste atenção Inuyasha. - e ela molhou a adaga com o sangue do meio-demônio. - Seu sangue é humano agora e através dele eu poderei fundir minha alma a sua e o tornarei mais forte para que você sobreviva ao que está por vir. - dizendo estas palavras ela girou rapidamente a arma para seu corpo e se golpeou no estômago.

Dor... Não, Kikyou não sentia dor. Choro... Não, ela não queria chorar. Medo... Sim, o medo de ir para o inferno. Porém, os braços de Inuyasha a confortaram naquele instante de tortura, de confusão.

_Kikyou! Kikyou! - ele gritou, vendo a jovem mulher morrer em seus braços.

_Inuyasha... - a voz de Kikyou soou em seus ouvidos. Porém, ela estava deitada, seus lábios não se moviam, mesmo assim ouvi sua voz. - Eu sempre estarei com você Inuyasha, porque agora somos apenas um.

As roupas da sacerdotisa caíram sobre as mãos de Inuyasha e o corpo tornou-se um pó cheiroso. O incenso apagou-se com um forte vento que entrou pela porta e tudo era silencio e frio. Inuyasha estava sozinho, triste e confuso.

_Ela está morta! – a voz de Ruki atiçou os instintos de Inuyasha.

_O que quer? – ele disse com raiva.

_Ver a morte de uma sacerdotisa! – respondeu satisfeita.

_Vá embora! – gritou.

_Que seja. – ela consentiu.

O silencio e a dor. As lágrimas e o frio. O medo e a verdade.

_Inuyasha? - Miroku entrou no templo.

...

_Inuyasha, está doendo não é? - todos perguntavam a ele, pois o que eles viam em seu rosto era a dor de perder o amor, a dor de perder a amizade, a dor de ser novamente sozinho.

_Inuyasha? - Riku entrou na casa de Kaede, desta vez mais sóbria de seus pensamentos e parecendo mais séria que o costume. - Venha comigo Inuyasha. - E fez Miroku olhar com desprezo para ela. Sango estava com raiva daquele youkai. Inuyasha sofria e ela ainda queria falar-lhe. Por quê? - Eu tenho as respostas para a sua mente. Interessado? - e saiu, dando as costas para todos. Inuyasha não pensou e nem reagiu, simplesmente seguiu Ruki.

...

CAPÍTULO 17 – As verdades sobre a sombra de uma árvore

...

Sango e Miroku ficaram assustados quando Inuyasha levantou-se e segui Ruki. Na verdade, Kouga sentiu um forte desejo de bater na cabeça do jovem, mas Ayame o impediu com o olhar. Não era hora de brigar, na verdade, era necessário esperar, entender a questão. Kaede por outro lado, levantou-se e saiu. Não ia atrás dos dois, mas sim ao tumulo de sua irmã. Shippou a acompanhou, ele era agora, o protegido da velha.

"Enfim você poderá descansar minha irmã. Enfim, você terá sua alma completa e poderá descansar para a eternidade!" - A velha não estava triste. Quando menina já havia chorado pela morte da irmã. O que ele queria, naquele instante era apenas dizer "Adeus", para quem não havia ido, mas deveria ter ido.

O coração de Kaede estava cheio de compaixão e de orgulho. Kikyou havia vingado sua morte e purificado seu coração. Ela não era mais movida pelo ódio que antes a dominava e a fazia existir. Kaede sabia que Kikyou havia terminado nos braços de Inuyasha, o ser que ela amava, e que enquanto ele estivesse ali, ela ainda estaria viva, porque eles sempre foram parte um do outro.

Shippou seguiu calado. O dia ainda não havia terminado é muita coisa já havia acontecido. Mas a saudade de Kagome era o que mais machucava o pequeno. Ela sempre esteve ao seu lado, protegendo-a e ele nunca teve que se preocupar com o futuro. Shippou sentia-se sozinho, mesmo que estivesse com seus amigos.

...

A floresta nunca havia parecido tão obscura e tenebrosa. Inuyasha sentia-se desprotegido. O medo passava por seu corpo, mas ele preferia ignorar o fato de que agora ele não mais era capaz de se defender sozinho a tristeza consumia sua alma, não com a força humana que possuía, não com os olhos humanos que tinha.

Ruki caminhava na frente, iam a direção ao poço quebra-osso e o silencio da youkai era um golpe ainda maior. Inuyasha não conseguia pensar em nada, somente em Kikyou. Naquele momento ele percebeu o quanto a amava, o quanto a fez sofrer e o quanto ele sofreu por ela. Ele não foi capaz de protegê-la, na verdade, ela é que havia feito isso. Ele falhou, como sempre, em defender quem mais amava.

“Era a sua sina”. – pensou Ruki.

Enfim pararam. Estava na frente do poço. Mesmo Inuyasha sentindo, nos lábios, o beijo de Kagome, as imagens misturavam-se em sua mente e Kikyou e Kagome surgiam alternativamente, mudando as imagens numa profusão de lembranças, até que as duas fundiram-se numa única alma e ele não mais foi capaz de entender seus pensamentos.

_Inuyasha, Kikyou não morreu e nem se sacrificou como pensa que ela fez. - Ruki sentou-se na beira do poço e encarou Inuyasha. Claro que Inuyasha já suspeitava que Kikyou estivesse viva, porém, o que ele não sabia era como ela estava viva - Você sabe o que acontece com as almas que vivem pelo ódio e depois morrem arrependidas? - ela perguntou olhando para a mão de Inuyasha. Ela já estava quase cicatrizada, mesmo ele sendo um humano. Era estranho, mas prova suficiente que a teoria da jovem youkai estava certa. Inuyasha respondeu a pergunta com um sinal negativo com a cabeça.

Depois de tantos anos, depois de tantos sofrimentos, ali estava Ruki, na sua frente. Não podia acreditar que ela já havia sofrido tanto quanto ele e que agora não mais tinha piedade dos homens e dos demônios.

Ela era como seu irmão e aquilo lhe dava medo.

_Elas têm direito a mais uma chance de fazer tudo certo. - ela resmungou. - Quando Kikyou morreu pela primeira vez, ela deixou um assunto pendente e Kagome nasceu! Isso porque ela era a reencarnação de Kikyou que tinha o dever de cumprir tudo que ela não foi capaz de fazer quando viva. Porém... - a youkai fez uma breve pausa, seus olhos estavam voltados para cima, para o céu sem lua ou estrela. - Ela irá reencarnar novamente, pois sua vinda para este mundo num corpo de barro a fez conhecer sentimentos malignos aos quais ela não estava destinada. - Ela desembainhou a espada e apontou para o leste. - Neste momento, uma criança com todos os poderes de Kikyou, com toda a sua alma, inteira, sem metades e sem temores está nascendo. Ela não tem assuntos pendentes e certamente jamais saberá que um dia Naraku existiu. Também não terá o nome que hoje carrega e nem os temores e obrigações que antes a fez infeliz. Na verdade Inuyasha, Kikyou está renascendo para viver a vida que não pode viver e isso é o milagre do céu e do inferno. - Ruki respirou fundo e esperou que Inuyasha sentasse no chão. Ele estava assustado com a notícia. Na verdade, estava pasmo. Não podia acreditar. Kikyou tinha uma nova chance de ser feliz. Mas e ele?

_Eu... - Inuyasha gaguejou. - Eu não... - mas ele não foi capaz de terminar a frase.

_Idiota. Claro que ela não vai conhecer você e muito menos procurá-lo. Ela é uma recém-nascida que não tem obrigações com este mundo. Aliás, tem sim, ela tem que ser feliz, porque só assim sua alma realmente descansará em paz. - Ruki percebeu que Inuyasha sorria. Não entendia aquele sorriso, aquela emoção. Bem, na verdade até entendia.

"Kikyou não morreu, ela está viva, ela será feliz!" - Inuyasha não queria acreditar, mas ao mesmo tempo tinha o coração cheio de alegria. Dentro dele havia a Kikyou, sim, ela estava com ele, não como um único ser, mas como doces lembranças de primavera que o fazem respirar fundo e sentir uma alegria intensa em estar vivo. "Minha querida Kikyou!" - ele pensou observando a sua volta. Nada havia mudado, mas tudo parecia mais ameno. A floresta não era mais tão escura, a vida não era mais tão vazia. Ele não podia ter Kikyou nos braços, mas percebeu que ela sempre esteve e sempre estaria com ele, porque eles eram um único espírito, um único ser.

_Kikyou será feliz Inuyasha. - Ruki resmungou levantando-se e ficando a espada na frente do jovem. - Mas e você? Será feliz? - e encarou os olhos de Inuyasha com tanta intensidade que o jovem podia se ver dentro dos olhos dela.

_Kikyou está viva, será feliz. Mas ainda assim, mesmo com a felicidade que sinto ainda sim me sinto incompleto.

_Então Kikyou realmente o tornou humano no interior. - a jovem youkai sorriu. - Não, ela não o tornou fisicamente humano, ela tornou seu coração e seu espírito humano. Ela nunca disse que você ficaria na forma humana, nunca disse que você seria um humano completo. Ser um homem não é só ter a aparência de um, é também ter os sentimentos e as imperfeições de um homem. - ela explicou percebendo que Inuyasha estava confuso.

"Um humano interior? O que seria?" - Inuyasha pensou. Na verdade ele tinha que admitir que não sentiu mudanças em seu corpo, mas seus sentimentos e emoções pareciam mais afáveis, mais verdadeiros, mais intensos, como se ele fosse um humano fraco. O que Inuyasha só percebia neste momento é que aquilo o deixava mais forte. Que mesmo ele chorando pela perda de Kikyou, ainda assim estava feliz por saber que ela seria feliz. "Mas e você?" - a voz de Riku bateu dentro de Inuyasha. "Kagome" - ele pensou. Na verdade achou que não a amava de verdade, até aquele momento escondeu o que sentia, mas não era mais capaz de segurar a emoção de sentir o amor brotar em seu peito.

_Kagome. - disse levantando-se e caminhando até o poço.

_O que você sente por ela Inuyasha? - ela perguntou curiosa.

_Eu, eu preciso vê-la! - respondeu. Ele já sabia a resposta para a pergunta, mas a única pessoa que tinha que ouvi-la era Kagome, só ela tinha que entender os sentimentos dele, só ela era dona dos traiçoeiros sonhos de Inuyasha.

_Há um meio de tê-la, mas antes é preciso avaliar seus sentimentos. - Ruki falou. Inuyasha deu as costas para ela e olhou no fundo do poço. - Ah! Mais uma coisa... - e dando um golpe fortíssimo nas costas do jovem, o fez se desequilibrar e cair, inconsciente, dentro do poço.
“Eu disse que Kagome não poderia mais vir a esta era, não disse que você não poderia ir a era dela!" - e sorrindo satisfeita consigo mesma, sentou-se novamente na beira do poço e esperou.

...

Kagome estava deitada na cama. Seus olhos estavam cheios de lágrimas...

CAPÍTULO 18 – Um dia normal? Uma vida sem vida!

...

A manhã havia sido tão difícil naquele dia. Havia deixado seus amigos para trás. Pessoal que aprendeu a gostar do jeito que elas eram. Na verdade, não as mudaria jamais, era tão diferentes e tão iguais que Kagome jamais queria ter que se separa delas. A separação. Nunca esperava ter que voltar com tanta pressa a sua ela. Na verdade, imaginou que ao terminar de junta a Jóia de Quatro Almas, ficaria mais fácil para ela ir e vir por entre as eras. No entanto não havia sido assim. Ela havia sido mandada para a casa por uma youkai que não conhecia e pelo Inuyasha.

Inuyasha foi o primeiro que conheceu ao ir para a era feudal e foi o ultimo que viu ao partir para sua era. Enfrentaram tantas provações, lutas e discussões. Tudo terminou em um beijo, tão saudoso, tão triste e tão doloroso. Kagome
não suportava a idéia de não voltar mais a ouvir a voz de Inuyasha.

Doía pensar que ele havia ficado para trás, em tempos remotos.

A menina, desde que chegara pela manhã da era feudal, havia se trancado no quarto. As roupas estavam jogadas no chão e ela vestia um pijama. Não havia comido nada e sentia uma dor de cabeça como se todo o seu corpo fosse estourar. As lágrimas molhavam o travesseiro. Estava sozinha, mesmo cerca pelas pessoas. Kagome não tinha vontade de sorrir, nem de conversar e nem de se levantar, estava deprimida, estava triste, estava dolorosamente ferida no coração.

"Inuyasha!" - só era capaz de pensar nele. Claro que sentia falta dos amigos, mas eles eram amigos, boas lembranças a serem lembradas para toda a vida, porém, Inuyasha era seu amor, o ser que ela levaria no coração para toda a eternidade. "Por quê?" - o doce sabor do beijo ainda estava em seus lábios. Ela não conseguia entender porque ele a beijou, não entendia mais o que deveria entender.

_Kagome. - a mãe da jovem bateu na porta. - Não quer comer nada? - perguntou para a menina.

_Não! - respondeu a Kagome em soluços.

Então a porta se abriu. A mãe de Kagome entrou e sentou ao lado da menina na cama. Então, acariciou os cabelos negros da jovem.

_Kagome, eu nunca questionei seus motivos para ir a tal era feudal, nunca duvidei do seu coração e não a culpo por nada que tenha acontecido. Mas, vou te dizer algo, o que aconteceu no passado lá deve ficar, como uma lembrança doce que nunca sairá do seu coração. Você deve se lembrar das pessoas, dos amigos e das dificuldades como um retrato antigo que nos faz sorrir. - e dando um beijo no rosto de Kagome, a mãe saiu, deixando a garota com os pensamentos.
Kagome levantou-se e foi até a janela. Inuyasha poderia estar ali, escondido. Abriu e nada viu somente a lua e o silencio do templo. Então, caminhou para a escrivaninha, o ano havia terminado, Ela, por um milagre havia passado nos exames e estava entrando no próximo ano de colegial. Na verdade, no dia seguinte era seu aniversário de 16 anos. Ela não acreditara que havia convivido apenas um ano com todos os seus amigos e eles já haviam se tornado parte dela como um inteiro.

"Um ano! Amanhã completo 16 anos!" - e caindo na cama novamente, amanheceu.

...

Inuyasha estava sentado no fundo do poço. Não estava mais com a aparência de um humano. Na verdade, seus cabelos brancos e suas garras estavam bem aparentes. No entanto, ele ainda sentia a fragilidade de homem percorrer seu corpo. "Kikyou me tornou humano por dentro!" - pensou olhando para suas mãos. Ele não se sentia diferente por fora, mas por dentro estava mudado. "Ela será feliz, e você Inuyasha?' - a voz de Ruki soou mais uma vez na sua mente.

O meio-demônio havia dormido ali, cansado pelos acontecimentos, atordoado pelos pensamentos, com medo do que o aguardava fora do poço. A jóia brilhava em sua mão e ele não tinha coragem de olhar para fora da escuridão em que estava. Era estranho, ele não tinha medo, não sentia frios na espinha, mas naquele momento a duvida de onde ele estava e como ele estava lhe passavam uma grande insegurança.

...

_Já vou indo mãe! - a voz de Kagome soou como um alivio nos ouvidos de Inuyasha. Ela estava longe, quase não foi capaz de ouvi-la, mas ele a escutou. Nunca pensou que se sentiria feliz em ouvir a voz dela. Nunca pensou que seu coração bateria tão forte em vê-la. Inuyasha havia chego à era de Kagome, havia voltado para perto dela.

...

Kagome vestiu-se rápido e saiu. Era o ultimo dia de escola. Todos iriam se encontrar para se despedir. Muitos mudariam de turma, outros ficariam na escola que estavam. Era talvez a ultima vez que Kagome via suas amigas. Não podia acreditar que em tão pouco tempo perderia tantos amigos, os da era feudal e os da era atual.

Quando passou pela casa onde o poço quebra-ossos estava trancado, pensou em ir até lá, em saltar no poço e ver onde iria parar. Porém, não só a pressa mas a angustia da decepção a fizeram correr para fora do templo e ela não foi capaz de sentir a presença da Jóia de Quatro almas que escondia-se, com Inuyasha, no fundo.

"Não! Eles serão sempre boas lembranças!" - ela saiu para rua e correu para a escola, estava atrasada!

...

Inuyasha sentiu o cheiro de Kagome passar e sumir para longe. Ela não havia ido onde ele estava, teria ela já esquecido dele? Teria ela preferido deixá-lo no passado? Inuyasha não mais sabia o que pensar.

"Kagome..." - pensou pulando para fora do poço e caminhando para o templo.

...

O dia passava lentamente. Kagome olhou no relógio eram cinco da tarde. Havia passado um ótimo dia com as amigas e amigos. Haviam chorado na despedida e fizeram pactos de amizade. Kagome parecia estar mais frágil que o costume e seu olhar para todos era um pouco melancólico. Mas, ao final, todos já haviam ido embora e ela estava sentada no balanço da praça que ficava perto da escola.

O sol se punha lentamente e a noite chegava como um toque divino.
"Está na hora de ir para casa".

Porém, Kagome não iria para casa, algo estava prestes a acontecer e ela estava sozinha novamente, sem amigos, sem Inuyasha sem ninguém...

CAPÍTULO 19 - De volta ao começo

...

O sol se punha lentamente no horizonte. Kagome, sentada no balanço apreciava a paisagem, era tão belo. Mas a angustia vinha a todo instante. Lembranças surgiam enquanto o sol desaparecia.

Seus amigos da escola haviam ido embora, todos tinham suas obrigações e ela resistia em acreditar que tudo havia acabado. Não só na escola, mas também na era feudal. Seu coração batia triste, como se o desaparecer do sol fosse a sua vida terminando.

O parque estava vazio, as crianças haviam ido para casa. Somente o vento sereno da noite levantava os cabelos de Kagome, balançando-o e refrescando seus pensamentos, levando com a brisa seus temores e seus medos. Era como se o chegar da noite trouxesse paz ao coração aflito, confuso e cheio de lembranças de Kagome. Ela queria esquecer, mas quanto mais queria esquecer, mais lembrava. "Senta!" - pensou abrindo um ligeiro sorriso. Em suas mãos o colar de Inuyasha. Era estranho, mas ela havia amanhecido com ele em suas mãos, porém, sabia que não havia sido Inuyasha que o deixara lá, ele não era capaz de tirar o objeto. "Como você veio parar aqui?" - pensou segurando forte a preciosa lembrança.

Já era tarde da noite quando a jovem percebeu o horário. Havia avisado a mãe que chegaria tarde, mas a noite seguia e ela sabia que já era muito mais tarde do que havia planejado. As estrelas brilhavam como pequenas luzes enquanto a lua exibia seu resplendor magnífico. Era hora de voltar para casa. Não havia mais nada a se pensar. Seus amigos de escola preparavam-se para mudar de escola, os amigos da era feudal ficaram onde estavam no passado e ela não tinha mais esperança de ver Inuyasha.

Levantou-se e começou a caminhar para a saída da praça. Porém, as sombras moviam-se através das árvores e barulhos estranhos assustavam a menina. Nunca havia ficado até tarde na rua e sentia-se desprotegida. Estava sozinha, sem amigos, sem a família e sem Inuyasha para defendê-la. O que as sombras noturnas escondiam?

_Quem está ai? - perguntou caminhando para trás, assustada com os sons que saiam por detrás das enormes árvores. - Tem alguém ai? - perguntou novamente, um pouco mais confiante, com esperanças que tivesse sido apenas os galhos das árvores balançando.

Porém, três seres saíram da escuridão. Eram homens asquerosos, com um aspecto tenebroso e um sorriso maldoso nos lábios. Kagome deixou o colar de Inuyasha cair no chão, estava com medo e estava paralisada. Não era capaz de mover-se e nem de gritar. "Estes rostos, estes homens..." - ela então percebeu, eram muito parecidos com os que a haviam agredido na era feudal. "Não são parecidos! São eles!" - ela tentou correr, mas sentiu uma mão em seu braço. A força com que foi presa a impedia de agir.

Podia reconhecer aquelas expressões em qualquer lugar. Eram as mesmas que ela havia enfrentado na era feudal, mas como aquilo era possível? Como aqueles ladrões de jóias poderiam ter transposto as eras atrás dela? Kagome estava confusa de mais e não percebia o que acontecia ao seu redor.

Um homem vestido de negro a segurava pelo braço, impedindo que ela se mexesse. Enquanto outros dois aproximavam-se. Estavam armados e suas faces não escondiam suas intenções pervertidas e maldosas. Kagome estava mais encrencada do que antes. Porém, a situação era igual, ela estava sozinha novamente.

"Inuyasha!" - ela desejou como da ultima vez que ele estivesse com ela. Mas não estava. Ela não podia fazer nada. Não tinha seus poderes espirituais (eles haviam sido cessados com seu retorno), não possua armas e nem modos que a pudesse ajudar a se defender. A única coisa que conseguia, naquele momento, era desejar que tudo terminasse logo, não seria capaz de escapar.

_Inuyasha! - ela gritou! Ela precisava gritar! Estava desesperada.

...

A noite caia lentamente e Inuyasha estava sentado nos galhos da árvore sagrada. Ali ele havia conhecido Kagome, ali ele havia aprendido a respeitá-la e a odiá-la, ali ele havia descoberto que a amava. Porém, algo estava errado. Kagome não havia voltado para casa e ele a aguardava ansioso. Além disso, seu coração batia mais forte e ele podia sentir que algo de ruim aconteceria.
"O seu coração, por cinco dias baterá junto com o de Kagome" - Ruki alertou Inuyasha antes de ir embora da caverna naquela noite. "Kagome!" - pensou o meio-demônio segurando com força a jóia. Esta brilhava intensamente. "Kagome? Onde você está?" - e pulando para o chão, sentiu o cheiro da brisa que batia em seu rosto.

...

_Inuyasha!!! - Kagome insistiu quando um dos homens avançou para cima dela. A única coisa que foi capaz de fazer foi dar um chute no rosto dele, afastando momentaneamente o perigo.

_Fique quieta menina! - outro ladrão resmungou aproximando-se dela. Kagome debatia-se.

_Soltem a Kagome! - uma voz passou rápida e derrubou o homem que segurava Kagome pelo braço.

Os olhos da menina não podiam estar enganando-a. Sob o manto da lua, os cabelos brancos de Inuyasha tornavam-se prateados. A voz arrogante, mas cheia de proteção invadia seu coração e o calor do corpo dela parecia trazer a jovem de volta a vida. Os olhos amarelos que a encararam momentaneamente foram embriagantes e ela se via envolta pelos braços protetores de Inuyasha.

_Eles te machucaram Kagome? - perguntou preocupado, colocando a jovem no chão.

_Eles... - mas antes de responder um dos homens tentou avançar para cima dos dois.

_Não importa, eu vou machucá-los e muito! - a voz agressiva de Inuyasha tomou conta do parque vazio. Um eco soou e os homens param, por um instante, o ataque. Um erro que não seriam capazes de cometer novamente.

Inuyasha estralou os dedos das mãos e pulou para cima dos três. Caídos, tentaram ainda rasgar a carne de Inuyasha com pequenas facas, mas estas foram lançadas longe por um soco do meio-demônio. Depois, com uma raiva quase desumana ele bateu com força nos corpos dos homens até que estes ficassem inconscientes.

Então, voltando-se para Kagome, pegou-a no colo e correu para longe dali.
"Inuyasha, o que você está fazendo aqui?" - Kagome pensou. Mas não tinha coragem de perguntar. As respostas podiam ser muitas e o medo de que não fosse nada daquilo real a fazia calar.

...

_Então ele os derrotou facilmente? - a voz de Ruki pode ser ouvida através das sombras das árvores do parque. Um sorriso satisfatório a invadiu profundamente. Logo estaria livre, logo sua missão terminaria. - Podem voltar para mim minhas ilusões. - e jogando a espada fez desaparecer os seres que estavam deitados e feridos por Inuyasha.
“Enfim, logo estarei livre!" - e voltando para as trevas do parque, sumiu.

...

Inuyasha havia levado Kagome para o templo. Estava na frente da árvore sagrada e os dois, calados, apreciavam o que não haviam sido capazes de apreciar quando estavam juntos.
Kagome tinha os olhos tão vivos. Os cabelos, sedosos e negros quase podiam ser confundidos com o céu noturno. Um sorriso que mostrava a alegria de vê-lo. Inuyasha não podia esconder o quanto admirava a jovem de dezesseis anos que se apresentava em sua frente. "Ela cresceu!" - pensou.

Inuyasha tinha o vento balançando seu cabelo prateado pelo luar. Os olhos estavam fixos em Kagome, mas tinham um brilho familiar. Os lábios, cerrados, davam um ar de serenidade ao jovem. Estavam se conhecendo naquele momento, estavam se percebendo novamente. "Ele veio" - pensou.

Na era feudal Kagome gritou o nome de Inuyasha diversas vezes, pediu pela sua ajuda, mas ele não a ouviu e nem a percebeu e ela foi obrigada a fugir sozinha, assustada e com ferimentos profundos dos ladrões. Mas naquela noite, mesmo o cenário sendo igual, Inuyasha a havia salvado, havia a ajudado.

_Você está bem, Kagome?

_Sim. - ela respondeu corando. - Inuyasha, como você veio para cá?

_Nem eu sei! - ele respondeu olhando para o céu. Era verdade. Ele não sabia. Ruki o havia derrubado no poço e era só isso que ele se lembrava. Porém, já que estava lá, deveria fazer algo que não havia tido coragem de fazer antes.

_Kagome, eu...

...

CAPÍTULO 20 – A Youkai que conhece a verdade

...

O luar iluminava os olhares perdidos de desejos, sonhando por aquele momento em que o silêncio invadia suas vozes e os fazia apenas observar o templo. Todas as luzes estavam apagadas, estava tarde da noite e somente a brisa noturna acariciava os rostos dos jovens.
Estavam ali, embaixo da árvore sagrada e podiam sentir seu poder de milênios, tantos amores e tantas brigas aquele ser já havia presenciado. Era reconfortante estar novamente ali. Kagome havia descoberto o amor naquele local, Inuyasha havia aprendido a viver e a desejar aos pés da árvore. Estavam de volta ao começo.

A respiração estava serena. Kagome sentia-se segura ao lado de Inuyasha, podia sentir o calor dele inundando toda a sua alma e embora não estivesse tão juntos quanto ela gostaria que estivessem ela ainda assim podia ouvir o coração do meio-demônio pulsar e até sentir o sangue correr em suas veias. Sentia-se novamente cheia de vida. Nunca pensou que sentiria tanta falta de Inuyasha, nunca pensou que se separariam; Kagome nunca imaginou que se apaixonaria tão intensamente por alguém daquela maneira.

Inuyasha estava paralisado pela beleza de Kagome. Não, ela não era tão bela como Kikyou. Mas à luz do luar, como seu rosto ficava pálido e iluminado por um brilho prata cativante. No entanto, não era isso que chamava a atenção de Inuyasha, o sentimento que havia dentro dele o fazia olhar mais fundo, ele podia sentir toda a alma de Kagome, ouvir seus pensamentos, sentir seus medos. Inuyasha sentia-se satisfeito de estar ali, estava feliz, pela primeira vez, de sentir seu coração de meio-demônio bater em seu peito.

_Kagome... - Inuyasha começou, mas não foi capaz de continuar, Kagome entreviu colocando dois dedos em seus lábios, calando-o.

_Inuyasha, eu senti a sua falta. Você já sabe o que sinto e não vou esconder o quanto estou feliz por tê-lo aqui. Não me importo mais como você chegou e nem quando você vai embora, só quero aproveitar este instante, quero tê-lo na minha mente para sempre.

_Kagome... - Inuyasha sussurrou, como se não quisesse estragar tudo o que acontecia entre os olhares intensos e as frases não ditas. - Eu... - o meio-demônio olhou para a lua. Ela estava tão bela naquela noite. Brilhava com tanta alvura no céu escuro. - Eu sinto muito por não ter te protegido quando você foi atacada, naquela noite... - ele segurou as mãos de Kagome com força e encarou os olhos negros dela. - Eu não te protegi, mas hoje, hoje eu salvei você... - e Kagome tentou dizer algo, mas Inuyasha a calou com o olhar. - Se eu perdesse você mais uma vez, jamais me perdoaria. - Lamentou.

_Inuyasha, você já me perdeu... - ela resmungou. Sim, era verdade. Inuyasha não pertencia aquele tempo, ele era da era feudal e para lá tinha que retornar. Ele sabia disso, mas por instantes preferiu fingir que não era verdade, que ele poderia viver ali para sempre. - Você me mandou para casa. - ela o encarou.

Era verdade, tudo o que Kagome dizia era verdade. A culpa era dele de não dizer o motivo de tê-la mandado para casa. A culpa era dele de nunca ter dito o que sentia por ela, era culpa dele o amor estar se perdendo através do tempo.

_Eu te amo! - ele disse como num desabafo. Estava tremendo, como se estivesse com medo. A respiração estava acelerada como se tivesse corrido, mas o coração estava sereno, pois Inuyasha dizia a verdade.

Não houve palavras, nem olhares e nem sussurros. Apenas os lábios se encontraram no ar, os toques acharam-se em si. O calor dos corpos misturou-se ao desejo e ao amor que sentiam um pelo outro. O arrepio da saudade um do outro. Beijavam-se serenamente, como se não se conhecessem, mas se amassem por toda a eternidade.

Kagome podia sentir todos os toques de Inuyasha, todos os seus sentimentos fluindo para ela. Inuyasha ouvia o coração de Kagome bater rápido. Estavam juntos e tudo poderia parar naquele momento. Inuyasha e Kagome desejaram que aquele momento fosse eterno.

_Não é lindo... - Ruki saltou da árvore. Estava observando os dois fazia pouco tempo.

_Ruki! - Inuyasha separou-se de Kagome e a escondeu atrás de seu corpo, como se quisesse protegê-la da youkai de alguma maneira que ela desconhecia. - O que faz aqui?

_Oras Inuyasha, a pergunta é: o que você faz aqui? - ela aproximou-se um pouco mais do casal.

_Inuyasha, do que ela está falando? - Kagome perguntou um pouco curiosa, um pouco temerosa, mas muito confusa. Realmente, o que Inuyasha fazia ali? Como ele havia chego ali? Perguntas que Kagome havia esquecido, perguntas que não importavam mais.

_Então você não contou porque ela voltou para cá? - Ruki olhou para Kagome com superioridade. Não havia sentimento algum de Ruki por Kagome que não fosse certo desprezo pela jovem. Na verdade, Ruki não gostava de humanos, mas odiava ainda mais sacerdotes. - Deixe que eu mesma conto. Você foi envenenada e isso fez com que a sua morte fosse adiantada. Afinal, você já sabia não é Kagome? Você já sabia que estava morrendo não é humana? - Ruki aproximou-se ainda mais do casal.

_Sim. - Kagome respondeu cabisbaixa. Sabia que estava morrendo, mas não sabia como e nem por que. Ela podia sentir dores no peito, todo o seu corpo doía muito nos últimos dias e sua cabeça girava quando ela estava na era feudal. Mas para não preocupar seus amigos e principalmente Inuyasha, ela fingiu não sentir nada. - Mas...

_Kagome, porque você não...

_Você só tem uma meia alma e por isso está morrendo. Porém, eu alonguei um pouco mais esta sua existência vulgar. Eu conectei a sua vida a de Inuyasha por alguns dias. Assim tudo aconteceria e eu seria capaz de finalmente ser livre.

_Ruki. - Inuyasha a encarou como se reprovasse o que ela havia dito.

_Inuyasha, você sente o que sente por Kagome? Você quer tê-la? Você acha que ela vai te amar para sempre? Ora, ela é uma criança ainda, seus sentimentos podem mudar. - Ruki desembainhou sua espada.

_Eu a amo, sei que ela também me ama e a única coisa que quero agora é protegê-la de você! - ele falou desembainhando a Tetsussaiga. Os olhares se encontraram.

_Pois bem. Venha aqui menina! - Ruki estendeu a mão. - Você quer viver? Você quer viver o seu amor? Então venha a mim. - e virando-se para Inuyasha. - Me dê a jóia.

_Ruki, eu... - mas Inuyasha não foi capaz de contestar Ruki.

_Tome. - Ruki entregou uma adaga que tinha a ponta banhada de sangue e entregou a jóia a Kagome. - Destrua a jóia.

_Mas seu eu tentar... - mas Ruki estava mais impassível que antes. Kagome não tinha escolha. Queria viver, queria ter Inuyasha, queria ser feliz. Então, num grito de raiva, a jovem liberou toda a energia espiritual que possuía e ficou a adaga na jóia e começou a pressionar um objeto contra o outro, até que...

Um brilho branco cegou a todos por instantes. Kagome sangrava no mesmo local onde a Jóia estava da primeira vez. Era como se alguém tivesse cortado seu corpo com uma faca. A dor era forte demais.

_Inuyasha, cuide de Kagome, ela vai ficar bem. - Ruki disse afastando-se de Kagome.

Inuyasha nada disse. Na verdade ele pegou Kagome pelo colo e correu em direção a casa da jovem. Num pulo alcançou o telhado e abrindo a janela entrou no quarto de Kagome. Então, gentilmente colocou a deitada na cama. Kagome estava sentindo muita dor.

_Isso foi ajudar. - Inuyasha tirou do bolso uma pequena erva. E colocando no ferimento de Kagome, fez o machucado parar de sangrar. A dor também havia sumido. Kagome apenas sorriu. - Não se preocupe, pois tudo vai dar certo. - e dando um beijo na jovem, saiu pela janela para encontrar Ruki.

Ruki não era uma youkai normal. Não era boa nem má, apenas agia conforme sua vontade e isso irritava Inuyasha profundamente. Mas naquela noite ela havia passado dos limites. Como tinha feito tudo aquilo. Por que Inuyasha sabia que os ladrões eram ilusões de Ruki, tanto os da era feudal como os daquela noite.

_Por quê? - ele segurou Ruki pelo kimono e a levantou no ar. Mas a youkai não respondeu. - Por quê? - insistiu.

_Kagome destruiu a jóia, isso quer dizer que este objeto está dentro dela novamente. E o sangue que havia na adaga, bem, ele era de Kikyou. - os olhos de Inuyasha arregalaram-se.

_Como?

_Para que a alma de Kagome pudesse ser completa, ela tinha que ter a alma de Kikyou de volta em seu corpo. Bem, eu matei a jovem nascida com a alma de Kikyou. - respondeu sorrindo.
Inuyasha a odiou mais do que era capaz de mostrar. Ruki tinha dito que Kikyou seria feliz, aquilo o acalmou. Ruki o havia levado para a era atual, mas era tudo parte de um plano. Ruki tinha tudo planejado. Ela era uma traidora, uma serpente traiçoeira. - Era um bebê muito dócil. - resmungou Ruki.

_Como teve coragem! - Inuyasha desembainhou a espada novamente. Daquela vez não teve coragem de atacar, mas agora toda a rua ira estava pronta para destruir Ruki.

_Kikyou e Kagome são uma só. Não podem viver separadas. Isso salvou a vida de Kagome e você mais do que qualquer um deveria estar satisfeito. - Ruki ignorou os movimentos ameaçadores de Inuyasha. - Eu disse que ela seria feliz, mas não disse como.

Inuyasha podia sentir suas mãos apertarem com força o cabo da Tetsussaiga. Como queria matar aquela youkai naquele momento, mas algo o impediu. Kagome estava viva graças a ela. Mas era graças a Ruki que Kikyou estava morta. O que fazer? Agradecer ou matar? Nada, Inuyasha preferiu ficar calado.

_Quer entender? - Ruki questionou.

_Sim. - Inuyasha respondeu. Kagome dormia no quarto, Kikyou estava morta e tudo parecia tão diferente. Mas aquela raiva ele não era capaz de contem dentro de si.

Ruki só teve tempo de desviar do ataque repentino de Inuyasha com as garras. Estavam lutando como animais que eram. Inuyasha desferia cada vez mais golpes. Procurava deixar todo o seu ódio escapar pelas suas mãos. Suas unhas afiadas enfim, cortaram um dos braços de Ruki. Ela não reagia contra os golpes, apenas desviava. Não queria lutar.

Inuyasha desembainhou a Tetsussaiga. Era hora de destruir aquilo que o protegia. Ele não queria mais saber do que ela era capaz, não queria mais nada! “Ela matou Kikyou!” – pensou preparando-se para lançar um ataque poderoso contra Ruki. Mas era estranho. A youkai não reagia, apenas observava com olhar sereno os movimentos de Inuyasha, como se preparando para o fim que a aguardava.

_Por quê? Por quê? – Inuyasha lançou um ataque que passou raspando pelas roupas de Ruki. Então, a youkai, aproximando-se de Inuyasha e fazendo-o abaixar a espada, o abraçou como um amigo.

_O sangue que Kikyou deixou em você é a lembrança dela, isso é que o perturba não é? – Ruki fez com que Inuyasha guardasse a espada. Era verdade, Inuyasha tinha Kikyou em seu coração e se torturava por ter sido responsável pela morte de Kikyou. Ele deveria ter ido ver a criança, ou quem sabe não deveria ter deixado Kikyou um só instante quando ela ainda era uma sacerdotisa. Era tudo culpa dele e aquela raiva toda que ele sentia era dele e não de Ruki. – Enquanto você não esquecê-la, ela continuará a viver entre nós como uma lembrança boa. Porém, ela não pertencia ao nosso mundo, ela já estava morta e tinha que cumprir o seu destino. – Ruki sorriu serenamente – Além disso, Kagome voltou a ser completa, voltou a ser Kikyou e Kagome.

Inuyasha parecia começar a se conformar com a idéia. Não pelo fato de que Kagome agora era completa, mas porque era tudo uma questão de voltar a ser o que era. Kikyou estava morta e este fato não poderia nunca ser mudado. Só pelo fato de que ela reencarnou em outra pessoa não significava que ela havia voltado para Inuyasha. Na verdade, somente a reencarnação de Kikyou em Kagome é que trouxe a sacerdotisa para ele, talvez numa forma mais dócil, numa forma mais menina, na forma de Kagome.

_Está morta. - Inuyasha resmungou. Ruki havia prometido a Inuyasha que nada aconteceria com Kikyou, mas ela havia mentido como sempre mentia.

_Não! - respondeu Ruki, o tom da voz era sincero, como raramente Inuyasha era capaz de ouvir. - Está viva. Ela vive em você e vive em Kagome. Os dois, você e Kagome juntos fazem a alma de Kikyou completa. Vocês três estão unidos de tal maneira que nem as eras são capazes de separar. Por isso, não me odeie desta maneira, eu apenas coloquei as peças no lugar.
Inuyasha estava novamente paralisado. Não conseguia acreditar no que ouvia, era como se a voz do destino o tocasse de leve nos ombros e o fizesse perceber a situação. Kikyou já havia morrido e era assim que deveria ser. Kagome estava viva e tinha a alma reconstituída inteiramente e era assim que deveria ser. Todos tinham de volta as suas vidas, modificadas por Naraku, mas era assim que tinha que ter sido. E ele, Inuyasha, havia tido seu coração curado e era isso que ele queria desde o começo.

_Está na hora de voltar Inuyasha. - Ruki estendeu a mão para Inuyasha. Não era preciso explicar tudo para Inuyasha, ele compreendia o que estava acontecendo, ele sabia o que deveria fazer.

_Kagome... - ele olhou mais uma vez para o quarto da jovem. E o que seriam deles agora? O que aconteceria? Inuyasha não sabia mais o que o esperar.

_Quando ela estiver pronta ela retornará para você. - Ruki deu as costas para Inuyasha e começou a caminhar para o poço quebra-ossos. - E acredite logo ela estará pronta.

...

Inuyasha e Ruki estavam de volta na era feudal. O ar estava mais puro e a paisagem mais verde. O sol nascia no horizonte. A brisa passava pelos cabelos dos seres que observavam a vida surgir no horizonte.

_Inuyasha! Estou indo. – Ruki fez uma pequena reverencia. – Adeus príncipe dos Youkais Cães da Lua Prateada! – e dando as costas para o jovem – Logo terá noticias minhas. – Ruki começou a correr até sumir das vistas de Inuyasha.

Sentado ali, apoiado no poço, Inuyasha respirava fundo. Observava tudo o que acontecia a sua volta. O despertar da floresta era intrigante e ao mesmo tempo tão tranqüilo que trazia paz ao coração de Inuyasha.

A jóia estava de volta com Kagome, Inuyasha ainda era um meio-demônio e o céu estava azul como num dia de primavera. Era bom estar livre, estar amando, estar onde se querem estar e com quem se quer estar. O jovem sorriu e deixou que as lembranças de tudo o que aconteceu o levasse para longe dali.

...

Ruki corria sem parar. “Desculpe Inuyasha, desde que seu pai me incumbiu de cuidar de você eu pequei! Deixei quem amava, matei quem odiava, destruí famílias, arruinei vidas, tudo para cumprir a minha missão!”. Ruki era culpada de tudo o que havia acontecido e sabia disso mais do que qualquer outra coisa. Mas como revelar isso a Inuyasha. Era melhor esconder. Ela o havia condenado aquela sina desde que sua mãe havia falecido e ela, protetora do garoto, o conduziu até aquele momento. Sabia que não deveria ter interferindo daquela maneira nos destinos das pessoas, mas só assim poderia encarar o grande Cão Branco quando, enfim, morresse. O poderoso Cão a havia incumbido de proteger seu filho e ela assim tinha feito. Inuyasha havia crescido forte, mas sem amor. E Ruki havia conseguido fazer com que ele descobrisse o amor.

Naraku, Kikyou, todas as tristezas de Sango, as provações de Miroku, os medos de Shippou, a sabedoria de Kaede e as desventuras de Kouga, tudo ela havia planejado minuciosamente. Porém, Kagome nunca teve controle, ela não foi capaz de controlar o coração da jovem e ao final ela acabou por curar Inuyasha, mesmo que essa não fosse a sua missão! Tudo era culpa de Ruki, mas ela não poderia esconder seu segredo para sempre.
"Logo Inuyasha irá descobrir quem criou Naraku e trouxe Kagome para esta era!" - e correndo até desaparecer, Ruki apenas se deixou consumir pelos pensamentos.

...

_Inuyasha! - Kagome saiu pelo poço e correu ao encontro de Inuyasha.
Inuyasha abriu os braços e recebeu com todo o seu calor Kagome. Após três longos anos, estavam juntos, mas não sabiam que suas aventuras estavam apenas no inicio! Mas por enquanto, era bom saber que tinham um ao outro e seus amigos para lhes apoiar.
Kagome e Inuyasha se beijaram e deixaram o sol invadir seus corpos...

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Comment (1)

OMG Regasou fera vc escreve muito no entanto ta faltando uma coisa vc deveria Iniciar essa mesma historia depois que aconteseu kanketsu hen vc poderia inventar mais coisas sem a joia pois ele foi destruida a sei la fazer alguem cria outra o mesmo a historia da kagome estar morrendo mais tudo isso depois dos fatos que ocorrem no final de InuYasha Kanketsu hen depois que ela ja se forma